quarta-feira, 5 de julho de 2023

GERALDO LIMA, ESPALHANDO AMOR E ALEGRIA ONDE ESTIVER



Foto de 2012,quando assumi a Secretaria Municipal de Comunicação

Eu tenho o hábito de dizer que se houver uma fila para a morte quem quiser pode passar na minha frente, não me importo. Isso porque sou intolerante com quem costuma "furar" filas, a ponto de brigar e fazer discurso socialista dentro de uma lotérica, por exemplo. Mas não vou falar mais dessa forma da morte. Não tem graça brincar com algo tão sério e que mexe tanto com nossos sentimentos.

Ela, a morte, às vezes avisa  que está rondando, mas nem sempre percebemos. Não nos dá a chance de uma despedida... Há uns dias perdi o convívio com um grande amigo. Na verdade ele já estava meio afastado, de mim e de todos, por conta de um vertiginoso processo de perda de memória. Até a hora da passagem foi inesperada. Recebi a notícia 00h18. Confesso que foi um baque. 

Geraldo Lima era uma dessas pessoas indispensáveis em nosso mundo, pessoal ou profissional. E de repente lá estávamos velando seu corpo, sem os abraços, as risadas estridentes, a conversa prazerosa, as opiniões sempre tão coerentes. Ator de teatro, escritor, jornalista e, sobretudo, pai. Dos seus e dos nossos filhos. Sim! Ele acarinhava todos e, com isso, afagava nossos corações. Não é mesmo, Neire Matos?

Mas enfim, Geo se foi para sempre. Saiu à francesa, não se despediu. Talvez fosse mais difícil, realmente, deixou que os familiares fizessem isso. Deixou Thiago e Jorginho para disseminarem a semente do bem e eles estão bem preparados para tanto. Não sei como é "do outro lado". Ninguém sabe. A única certeza é que esteja onde estiver, ele espalhará amor e alegria. Sem economizar. 

quarta-feira, 14 de junho de 2023

QUEM É GUSTAVO LIMA PRA DERRAMAR O MUGUNZÁ DE FLÁVIO JOSÉ?

 


*Por Alana Freitas El Fahl

Vamos direto ao assunto: Acho que a culpa nem é dele, é de quem contrata essas atrações para as festas juninas, não só o rapaz em questão, mas tantos outros nomes que não deviam tocar nesse matulão que é do forró, xote, maracatu e baião. Mas aí, seu menino, você mexeu com coisa sagrada, tome juízo. Respeita, Januário! Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Flávio José é minha Santíssima Trindade do forró e creio que de muita gente que também aprecia o gênero. Dois no céu, outro na terra.  Uma pra mim, outra pra mim, deixa pra tu também. 

Olha pro céu, meu amor! Com tantos outros santos e arcanjos já por lá e por cá como Genival Lacerda, Cremilda, Marinês, Amelinha, Alcymar Monteiro, Virgílio, Adelmário Coelho, Dorgival, Quininho de Valente, Nando Cordel, Trio Nordestino, Waldonys, Jorge de Altinho, Santana, Targino Gondim, Chambinho, Lucy Alves, Dorgival e Cia, sem contar os incontáveis "trios pés de serra" que resistem na base de tareco e mariola e tantas estrelas ainda buscando seus espaços, o que não falta é gente boa para ser contratada nesse período específico e que exige música tradicional da época. Essa turma já fatura alto o ano todo, de janeiro a janeiro.

Se a razão das contratações é chamar mais gente, o público que só curte quem está no estrelato dos milhões, que só gosta dessa turma, eu discordo, acredito na formação de novas plateias sempre através do contato e exposição. Alguém chama os forrozeiros para tocar no carnaval? Alguém chama os forrozeiros para o Festival de Verão? Simone canta " Então é São João"? Perguntas retóricas...Vou tomar de empréstimo o Paulinho da Viola que também não tem nada a ver com a história, mas duvido que aceitasse um convite para cantar no São João. "Tá legal eu aceito o argumento, mas não mude o forró tanto assim"...

Meu protesto é muito pouco é quase nada, mas não tem outro mais bonito no lugar...Ave, Flávio! Você é que nem avelós, mas tem que ter voz! A música pacifica o mundo!

Alana Freitas El Fahl é professora de Literaturas Portuguesa e Brasileira e fã de Flávio José.

segunda-feira, 5 de junho de 2023

JORJÃO, O REPÓRTER FURÃO

 


Por Cristóvam Aguiar

Jorjão era o melhor repórter do jornal “A Trombeta”, o independente e intimorato semanário da cidade de Brasilônia, município encravado no coração do sertão aonde nem notícia ruim chega. Cidade pacata, mas um tanto surrealista. Talvez o único lugar do mundo onde, embora detentor das maiores plantações de mandioca, era obrigado a importar álcool para abastecer os seus veículos, simplesmente porque era proibido fabricar álcool no município. Coisas dos governantes de Brasilônia, que não compete a nós, pobres mortais, discutir nem discordar.

O coronel Durval Martins Falcão de Carvalho, homem poderoso do lugar, tido e havido como verdadeiro dono do município, tinha um fraco: era viciado em sexo. Na sala de sua casa, sua espada, conquistada com honras e glórias nos tempos do exército, fora colocada na parede da sala com a ponta voltada para cima, qual verdadeiro símbolo fálico.

Seguia Brasilônia a sua vidinha pacata, com a rotina quebrada vez ou outra por alguma festa, eleições ou algum crime bárbaro. Jorjão, o repórter do “A Trombeta”, jornal que o coronel costumava qualificar como “imprensa marrom”, sonhava com uma grande matéria que lhe desse notoriedade e, quem sabe, rendesse um convite para trabalhar num grande jornal da capital.

Ansiando pela oportunidade que não vinha, vez por outra ia à igreja matriz para pedir a Nossa Senhora dos Desafortunados, uma chance, uma inspiração que o levasse a realizar a tão sonhada reportagem. Certo dia, ao entrar na igreja, postou-se de joelhos perto do altar e estava imerso em suas orações quando ouviu uns gemidos. Olhou em volta, mas a igreja estava vazia. Os gemidos, percebeu, vinham da sacristia.

Aproximou-se silenciosamente e qual não foi a sua surpresa quando, ao afastar um pouco a cortina, flagrou o coronel Durval em pleno coito anal com o padre Bedel, o pároco local. Imediatamente, em absoluto silêncio, Jorjão sacou sua câmera equipada com teleobjetiva e, “click”, fez a foto. Correu para o jornal e preparou aquela que seria a grande matéria da sua vida.

Texto pronto, foto revelada, mostrou ao editor que vibrou com a notícia. Imediatamente mandou “parar as máquinas” e convocou todos os funcionários para trabalharem numa edição extra. Mas havia um porém. Como dar a manchete de tal fato, sem chocar a tradicional família brasilônica? O título não poderia ser uma coisa grosseira. Teria que ser colocado de um modo suave, para não ferir a moral os bons costumes daquela boa gente.

No dia seguinte, estava a edição da “Trombeta” nas ruas, com a seguinte manchete, em letras garrafais: “Membro militar penetra em círculo eclesiástico”.

Crônica publicada no livro A Levada da Égua e outras estórias (2004)

domingo, 4 de junho de 2023

O POEMA DOMINGUEIRO DE JOZAILTO LIMA


ÂMAGO


do chão da casa antiga,

o umbigo escala paredes

sobe ao telhado

confisca o sol da fatal primeira hora

e o reelabora em luz da vida inteira.

 

no chão antigo, decifro a casa

larga.

larga e derradeira.


Jozailto Lima/Ilustração, Ronaldson

(Do livro “Ainda os lobos”, editora Patuá, São Paulo, 2016).


domingo, 28 de maio de 2023

"ESSE ENTUSIASMO TODO DELE É PORQUE ESTÁ NO INÍCIO..."


Por Raulino Júnior
 

Hoje, faz exatos 20 anos que comecei a dar aula. Alguns poucos meses depois que iniciei, uma colega de trabalho falou isto para mim: "Esse entusiasmo todo dele é porque está no início... Achei tão cruel, mas não me abalei. Muito pelo contrário, fiquei ainda mais entusiasmado e sigo assim, apesar dos perrengues e desafios do cotidiano escolar.

Minha primeira experiência como professor foi no Colégio Estadual de Conceição do Jacuípe (CECJ), em Berimbau, minha cidade de origem. Fui contratado pelo Regime Especial de Direito Administrativo (REDA), na época em que só se conseguia "ser REDA" por indicação política. Caiu no meu colo! A vaga era destinada a outra profissional, que não pôde assumir e passou para mim. Dei aula no noturno, na modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos). Uma experiência e tanto!

As fotos desta publicação são de 4 de março de 2004, um tempo depois do começo, mas são emblemáticas porque estou ao lado de professoras que já eram muito experientes e que me receberam super bem naquele 28 de maio de 2003. Aprendi, melhorei e estou aqui 20 anos depois. Com o mesmo entusiasmo! Obrigado, gente!

Aos 21, eu queria mudar o mundo!

Aos 41, eu quero mudar o mundo ainda mais!  Certa vez, Lilia Rezende, que conheci durante a minha caminhada na educação, disse para mim que "entusiasmo" significava "Deus dentro de nós". Nunca mais esqueci!

A cada dia 28, vou publicar fatos que considero como marcos da minha carreira como professor. Tenho ótimas recordações!   

Escola: Da Vida.

Professor: Raulino.

"E é pra chegar sabendo que a gente tem o sol na mão" (Gonzaguinha)


Raulino Júnior, professor e jornalista

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

E ASSIM SE PASSARAM TRÊS DÉCADAS



Por Claudio Rodrigues*

Quando desembarquei no Terminal Rodoviário de Itabuna, no dia 30 de dezembro de 1992, acompanhado da amiga/irmã e futura comadre Madalena de Jesus, estávamos iniciando uma aventura na “Terra do Sem Fim”, sob o comando do mestre José Carlos Teixeira. 

O desafio era modernizar a Comunicação Social do governo do então prefeito Geraldo Simões. Meu projeto pessoal era ficar seis meses na cidade-mãe de Amado Jorge.

Logo na chegada, descobri que havia uma colônia feirense enraizada em Itabuna composta pelo professor Tustão Andrade, o design Paulo Fumaça e o saudoso gerente-comercial do Correio da Bahia para a região Sul, Robson Nascimento. Descobri que feirense e mato são quase iguais, pois brota em todo canto.

Eis que o tempo foi passando, o ciclo de amigos no governo, nos veículos de comunicação e fora desses meios foram aumentando e a gente se apegando a essa terra. A cada 15 dias pegava a rodovia BR-101 rumo a Feira, a fim de encontrar a então amada namorada.

Depois de fazer algumas contas, chegamos à conclusão de que era melhor juntar as escovas e constituir família. Pensem numa escolha acertada!

Posso assegurar que essa água mágica do Cachoeira (fornecida pela Emasa), o vento que sopra na gente e a areia do chão de Itabuna são como visgo da jaca e a nódoa de caju, colam na gente e não saem de jeito algum. 

Itabuna me possibilitou constituir uma bela família. Mas não foi só isso. Essa terra encantadora também me deu alguns amigos-irmãos, a exemplo de Luiz Conceição e Daniel Thame (hoje meus compadres), Ramiro e Ricardo Aquino, Devinho Samuel, Lula Viana, Jackson Primo, Ricardinho Ribeiro, Reinaldo Jovita, Josiel e Norma Nunes, Fernand Milcent, Heitor Abijaude e César Sena.

Além desses irmãos, vieram uma legião de amigos aos quis amo e prezo. A exemplo do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, que nesse mês completaria 110 anos de nascimento, posso afirmar que sou um catingueiro feliz. 

Se eu nascesse de novo, queria ser o mesmo Cláudio. Se eu nascesse de novo e pudesse escolher, mais do que eu sou não queria ser. Eu queria nascer em Feira de Santana, a Terra de Lucas.  Eu queria ser filho de dona Peu, neto de Adelino e Silvina, marido de Maria Martha, pai de Héctor, Heitor e Antônio Neto, e genro de Inês Borges e Antônio Mendes. 

Quando eu tivesse com meus vinte e poucos anos, eu queria desembarcar novamente em Itabuna, me apaixonar por essa cidade e sua gente. E, se eu nascesse de novo e pudesse escolher, escolheria viver tudo isso novamente.

*Jornalista, assessor de comunicação da Emasa

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

TUDO EVOCA SACRALIDADE


Por Jailton Batista

Uma das mais singelas capelas do Brasil está incrustada numa gruta em Bom Jesus da Lapa, no meio oeste da Bahia. Quem ali adentra, não há como não ser impactado, pois tudo evoca sacralidade. Do teto, esculpido pela ação silenciosa do tempo, descem pináculos invertidos de estalactites como se fossem candelabros. Em frente ao altar mor, no centro da capela, um deles verte gotas d’água que um crente diria que seriam lágrimas de Cristo que caem ritmadamente como uma nota musical. 

Esse milagre da natureza poderia ser bem aproveitado numa pia batismal ou em outra cerimônia sacramental para purificar tantas almas pecadoras que ali vão beber na fonte de Deus. Fica aí a sugestão. No interior da caverna sacra há pequenos labirintos onde fiéis ou curiosos percorrem diminuídos pela aura transcende  do lugar. 

Lá fora, a missa campal ao pé da montanha e ao lado da embocadura do templo de pedra, um padre conduz a cerimônia principal sob o fervor dos cânticos entoados por jovens de um coral bem afinado, colorindo a liturgia de uma musicalidade que nos faz imaginar que estamos na porta do céu sendo saudados por anjos com seus alaúdes e cítaras numa festa de conversão.