terça-feira, 14 de agosto de 2012

FEIRA DO LIVRO APROXIMA LITERATURAS BAIANA E SERGIPANA


Jozailto Lima


Nesta quarta-feira (15), segundo dia da 5ª Feira do Livro - Festival Cultural e Literário de Feira de Santana, três escritores com atuação sergipana fazem um painel da literatura contemporânea da terra de Sílvio Romero, Tobias Barreto e Chico Dantas. Será a primeira vez na realização desse evento que a literatura de outro Estado ganhará destaque numa apresentação mais ampla e específica, com um painel revelador do que é produzido em Sergipe, vizinho ao Norte da Bahia, cuja capital, Aracaju, fica a 310 quilômetros de distância de Feira.

Para fazer uma introdução do que é a literatura sergipana, a 5ª Feira do Livro reunirá em uma mesa redonda, na praça João Barbosa de Carvalho, centro da cidade, a partir das 15h30, três escritores com atuação naquele Estado: Jeová Santana, contista, poeta, professor e doutor em Educação; Ronaldson Souza, poeta, cartunista, designer e crítico de arte, e Jozailto Lima, jornalista e poeta. Jozailto é baiano, mora em Aracaju há 22 anos e, inclusive, foi aluno de Letras da Universidade Estadual de Feira de Santana, uma das mantenedoras da Feira do Livro.

Além de um mosaico do tempo presente, da contemporaneidade, Jeová, Ronaldson e Jozailto farão um perfil do que é Sergipe no aspecto da literatura no contexto nacional também do passado. E terão muito de consistente a dizer. O Estado de Sergipe, embora seja um dos menores do Brasil territorialmente – com 22 mil km quadrados -, sempre teve presença nas letras e na literatura nacionais.

“Bastaria citar a importância de um Sílvio Romero no século 19 para a compreensão da literatura, com seu “História da Literatura Brasileira”, de 1888, para que situássemos bem o Estado”, diz Jozailto. “Ou a contribuição do jurista e filósofo Tobias Barreto, tanto nas letras jurídicas quanto na lírica, com experimentos respeitáveis em poesia”, complementa Ronaldson Souza.

Mas não é só do passado que vive o Estado. “Sergipe tem uma produção literária no tempo presente bem definida. Eu citaria dois nomes que escrevem a partir do Estado, publicam por editoras nacionais e têm boa acolhida na opinião pública e na crítica literária especializada nacionais: Francisco J. D. Dantas, com cinco romances, e Antônio Carlos Viana, com três livros de conto. O primeiro é autor de mão cheia; o segundo, um contista irretocável”, diz Jeová Santana.

Além de falar da produção de Sergipe, os três convidados sergipanos divulgarão obras deles mesmos em lançamento depois das palestras. Os três estão com livros recém-lançados: Jeová, com seu primeiro livro de versos, “Poemas Passageiros” – ele é autor de três livros de contos –; Jozailto, com “Viagem na Argila”, seu quarto livro, publicado este ano, e Ronaldson, com “Litorâneos”.

Os três já ganharam quatro vezes os dois principais prêmios de literatura de Sergipe, o Santo Souza, de Poesia, e o Núbia Marques, de Conto. Jozailto, por duas vezes. Antes da fala desses três autores, o Grupo Concriz, da cidade de Maracás, Bahia, fará uma homenagem à literatura de Sergipe, com uma seleção de textos de vários autores daquele Estado.

“A UEFS sente-se duplamente feliz. Primeiro, por assistirmos ao estabelecimento dessa relação entre a nossa instituição e a literatura da região de Feira de Santana com a literatura feita pelos sergipanos. Estamos sendo pioneiros, e que isso ganhe uma abrangência de região nordestina, com a vinda de outros estados; e segundo, porque estamos sentindo que a Feira do Livro a cada ano ganha em significação e densidade que bem atestam os seus objetivos de fomentar a leitura”, diz o reitor da UEFS, professor José Carlos Barreto de Santana.

A aproximação literária entre Sergipe e Bahia, via Feira de Santana, encontra no professor da UEFS e poeta Roberval Pereyr e no jornalista e poeta Jozailto Lima, dois entusiastas. Desde que saiu de Feira, Jozailto nunca perdeu o contato com a produção cultural feirense, e Pereyr tem sido a ponte para isso. Em março deste ano, Roberval esteve no lançamento do livro de Jozailto em Aracaju e desde lá discutem a possibilidade de uma caravana sergipana se fazer presente à 5ª Feira do Livro, onde cerca de 70 livros de autores sergipanos estão expostos. “Em verdade, é um projeto que nós, da UFES, gostaríamos de fazer extensivo aos demais Estados do Nordeste. Tomara que Sergipe seja o primeiro da série”, diz Pereyr.

O que os três escrevem

UTOPIA DE HOMENS PLENOS

(Jozailto Lima)

“nós somos os homens ocos

os homens empalhados

uns nos outros amparados

o elmo cheio de nada. ai de nós”

POEMA DA BESTA-FERA

(Jeová Santana)

A fera que mora em mim

é tratada com desvelo.

Por ela me faço de tolo

para não atrair atropelo.


À fera que mora em mim

oferendo música e doce.

Senão me vira do avesso

com sua lábia de foice.


A fera que mora em mim

na condição de besta é mera.

Perigo é ajuntar o adjetivo

que a demuda em besta-fera.


A fera que mora em mim

trago em górdio cabresto.

Basta um simples vacilo

ei-la no maior desembesto.

MIMO

(Ronaldson Souza)

Um pôr-do-sol na colina

e sua frágil anelina.

Retê-lo nas mãos ninguém conseguiria.

Feliz quem pode

ver Deus e suas bijuterias.

Quem é quem

Jozailto Lima nasceu no dia 11 de novembro 1960, em Várzea do Poço, Bahia. Morou aqui em Feira de dezembro de 1979 a março de 1990. Aqui, iniciou-se no curso de Letras da UEFS e fez também a iniciação profissional em Jornalismo. Trabalhou no Feira Hoje, na TV Suabé, e nas sucursais dos jornais Tribuna da Bahia e Jornal da Bahia. Ainda estudando Letras, lançou seu primeiro livro -“A Flor de Bronze e outros poemas de mediar” (1986) – e mudou-se para Aracaju em 90. Lá, bacharelou-se em Comunicação Social, trabalhou no Jornal de Sergipe e no Cinform, onde está ainda hoje e do qual é diretor de Jornalismo. Em Sergipe, lançou três livros: “Plenespanto” (1995), “Retrato Diverso” (2004) e “Viagem na Argila”, (2012).

Jeová Santana nasceu em Maruim, Sergipe, em 1961. É graduado em Letras pela Universidade Federal de Sergipe, mestre em Teoria Literária pela Universidade Estadual de Campinas, doutor em Educação: História, Política, Sociedade: Educação e Ciências Sociais, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Publicou Dentro da casca (1993), A ossatura (2002), Inventário de ranhuras (2006), A crítica cultural no ensaio e na crônica de Genolino Amado (2011) e “Poemas passageiros”, em 2012. Trabalha como professor na rede pública de ensino em Aracaju e na Universidade Estadual de Alagoas.

Ronaldson Souza nasceu em Aracaju em 19 de novembro de 1967. Colabora como crítico de arte há quase duas décadas na imprensa, estendendo seus escritos para a área das artes plásticas, música e literatura. Ganhador de vários prêmios literários a exemplo do I Prêmio Banese de Literatura (2005) e do Prêmio Santo Souza de Poesia(2006), publicou em inúmeras antologias sergipanas e nacionais, a exemplo de Aperitivo Poético e A Poesia Sergipana no Século 20 (Editora Imago). É autor de “Questão de Íris” (1997) e “Litorâneos” (2006). Artista plástico, dedica-se atualmente à criação de capas de livros, posters-poemas, caricaturas, ilustrações para jornais, xilogravuras, telas e aproveitamento de refugos para trabalhos conceituais e de arte contemporânea. Jornalista cultural, assinou colunas como Domingo Mix (Correio de Sergipe) e Outros Tons (Cinform). Escreveu para a Revista de Bordo da Vasp (Nordeste Magazine). Também participa do conselho editorial e científico da Revista da Esmese – Escola Superior da Magistratura de Sergipe. Participou de Salões de Humor do Piauí e de Volta Redonda (RJ), ganhou em Salão de Humor Cidade de Aracaju, anos 80, prêmios nas categorias caricatura, tira, charge e cartum. Revisor profissional de revistas, jornais e livros, também tem pós-graduação em Literatura Brasileira, Língua Portuguesa e Artes Visuais. É filiado à Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA/AICA).

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