quarta-feira, 30 de outubro de 2013

AULA DE CORDEL, SIM SENHOR!


Professora Josinete Maria da Silva

O que tem a ver a literatura de cordel com a história do Egito, o trabalho das benzedeiras do bairro Viveiros, em Feira de Santana, ou a importância do rio Nilo para a humanidade? Aparentemente nada. Mas não é assim que pensa a professora Josinete Maria da Silva, que faz do cordel o fio condutor de seu projeto de ensino de História na Escola Estadual Maria Quitéria.

Junto com os alunos, Josinete vem construindo, ao longo dos anos, uma didática inovadora em sala de aula. “Agora preste atenção/Chegou a hora de lembrar/A religião dos Egípcios/Devemos agora mostrar/Eles eram politeístas/Vários Deuses a acreditar”, declama ela, cheia de orgulho, versos do cordel produzido por um grupo de alunos da 5ª série. Já o resultado do que foi desenvolvido nas aulas.

As atividades das aulas de História não se limitam à produção de cordel, cujos temas vêm desde os povos pré-colombianos. São realizados seminários, exposições e palestras sobre esse estilo literário, com cordelistas conhecidos, como Franklin Machado e João José dos Santos (Azulão). O objetivo de Josinete, nesses 21 anos de Magistério, é simples: “Preservar a cultura nordestina”.

A primeira lição sobre cordel foi ainda nos tempos de menina, por volta dos oito, nove anos, quando o pai, “Seo” Carmosino, hoje com 100 anos, comprava os livretos nas feiras e levava para casa, mesmo não sabendo ler. “Eu ainda não dominava a leitura e pedia ajuda a Valda, que era bem mais velha. Ela lia, eu decorava e recitava para meu pai”, conta. Quando a sua estratégia foi descoberta, a pequena Juju já sabia ler de verdade. Muito mais tarde, descobriu que exercia uma função comum na literatura de cordel: era folheteira.

No cordel que conta “A História das Benzedeiras do Viveiros”, a professora Josinete vai além, mostrando uma crença secular preservada por essas mulheres destemidas e denunciando o preconceito de outros tempos, mas que ainda hoje se manifesta: “Por ser cultura de pobre/O preconceito surgiu/Início da Idade Média/Até a Igreja proibiu/A benzedeira da época/Chamada de curandeira/Com bravura prosseguiu”.

Mesmo fora da sala de aula, a educação é a mola propulsora das ações de Josinete. Participa de todas as ações da APLB Sindicato em defesa da categoria, encara os movimentos grevistas de frente - mesmo tendo o salário cortado - e isso também vira versos. “O Onze de Abril no Cordel do Professor”, por exemplo, conta a história da paralisação que durou mais de dois meses na Bahia.

Para Juju, como é conhecida entre amigos, o cordel pode ser até presente em datas significativas ou momentos marcantes. Várias pessoas já foram agraciadas com livretos contando a sua história, a exemplo do aposentado José Feliciano dos Santos e da psicóloga Meire Moura. A jornalista Aparecida Machado também foi presenteada com um cordel, ainda não publicado.

 Madalena de Jesus

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