Nesse texto, o escritor
Graciliano Ramos faz uma analogia entre o ato de escrever e a prática de lavar
roupa. Da mesma forma, o também escritor Rubem Alves defende, em uma belíssima
crônica, que escrever e cozinhar são ofícios bem próximos. Já o poeta João
Cabral de Melo Neto ensina, com muita propriedade, que ‘escrever é como catar
feijão”. Parece simples...
Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer.
Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.
Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.
(Graciliano Ramos)
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