terça-feira, 28 de janeiro de 2014

DE CORPO E ALMA



“Sou de Feira”. A frase é curta, mas carregada de significado, na voz tranquila e agradável do ex-professor de Educação Física, que encontrou na arte não apenas um meio de expressão, como de sobrevivência. Demitido da rede municipal de ensino após 15 anos de trabalho, sem maiores explicações, Adelson Brito mudou de profissão e de vida. Literalmente.

A própria casa, no Nagé, onde vive ainda hoje, virou ateliê. Primeiro para pintura de quadros. Depois para criação e confecção de roupas. Algumas bem extravagantes – ou diferentes, com o prefere – que ele próprio usava e passou a comercializar. Chamado de doido pelo jeito de vestir, Adelson garante que nunca ligou. “Só se joga pedra em fruto bom”, diz, o estilista.

No box que mantém no Mercado de Arte Popular, muitas peças chamam a atenção, inclusive as que ele usa: uma calça saruel com estampa de zebra, uma camiseta com camuflagem do exército e um catê, espécie de boné afro preto e branco. “Tenho mais ou menos 25 peças dessa, a maioria branca”, conta. Chama a atenção também variedade de cangas de praia com ilustrações de santos, com cores bem vivas.

Saída de praia, roupa de baiana, blusas, saias, chapéus... Tem tudo no Box de Adelson, que se orgulha do fato de suas criações já terem sido vendidas no mundo inteiro. Ele cita que pessoas famosas já usaram suas criações, como o estilista Ney Galvão (já falecido) e a cantora Gretchen. Uma peça inesquecível: “Todas”. Mas pouco depois deixa escapar felicidade de ter criado e confeccionado a roupa de casamento de um casal hippie.

Aos 59 anos de idade, Adelson fala de si mesmo com uma naturalidade impressionante. Sexto filho de um total de 12, foi o único a nascer em Feira de Santana. Seus pais moravam em Salvador e sua mãe, grávida, veio à cidade passear e acabou ficando. Mais tarde, ele trouxe todos os irmãos. Sobre seu estilo de vida, não há meias palavras: “Eu só quero ser o que sou”.

Madalena de Jesus

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