terça-feira, 25 de julho de 2017

LUCAS E EU: AMOR QUE NÃO SE MEDE




Do alto (?) de seus quatro anos bem vividos, ele diz que já é adulto, na tentativa de me convencer a atender o seu pedido. O poder de convencimento se desvanece nas minhas gargalhadas e ele, compenetrado, parte para outra, imediatamente: Sabia que já vou fazer cinco anos? Como se esse argumento valesse mais que o primeiro.

E assim começa – e às vezes termina – o diálogo com Lucas, meu neto, um presente que eu ganhei sem merecer, como diz a escritora Raquel de Queiroz em seu texto sobre a avó. Tudo que vem dele é grandioso. Um beijo na hora que acorda, um abraço para retardar a minha saída para o trabalho, as brincadeiras na hora do banho, o elogio espontâneo – Vovó, você é tão linda!

Ele é tão especial que já sabe, ainda tão pequenininho, valorizar duas coisas essenciais em nossa vida, família e amigos. Tanto que não permitiu que ninguém interferisse na lista de convidados para seu aniversário. Bárbara, preocupada em cumprir as regras sociais, bem que sinalizou, uma vez ou outra, com algum nome, mas ele se manteve irredutível: Esse não, viu mãe?

A conta é mais ou menos assim, Lucas tem quatro anos de vida e eu ganhei esse mesmo período de vitalidade e capacidade de superação. O seu amor me alimenta de tal forma que no final de semana, quando eu penso que vou descansar da labuta diária, troco qualquer compromisso (até um show de Zé Ramalho, acreditem!) para levá-lo a uma festinha.

Eu não sigo nenhum manual para desempenhar meu papel de avó. Meu leme é o coração e é por meio desse órgão que nos relacionamos. Se às vezes perco a paciência? Claro que sim. Mas nada que um afago, de ambas as partes, não contorne. O nosso amor é incondicional e imensurável e agradeço a Deus todos os dias por me permitir essa bênção que é tê-lo em minha vida.

Madalena de Jesus

domingo, 16 de julho de 2017

EXPOSIÇÃO IMAGEM DE MODA: VITRINA E COTIDIANO NA EBAM


A exposição Imagem de Moda: Vitrina e Cotidiano, da professora e jornalista Renata Pitombo Cidreira, é um dos destaques da programação de aniversário da Escola Baiana de Arte e Moda (EBAM), que acontece entre 17 de julho e 17 de agosto. A abertura da mostra acontecerá nesta terça-feira (18), a partir das 19h30, com recital de música, além de autógrafos nos livros publicados pela autora.

As imagens estarão disponíveis para visitação no período de comemorações do aniversário de um ano da EBAM. A jornalista apresenta vitrines de grandes marcas de moda produzidas em Paris, Milão, Madrid e São Paulo, nos anos de 2010, 2014, 2016 e 2017. Os registros de maisons como Chanel, Dior, Prada, Armani e Lanvin buscam evidenciar a força das composições visuais, através das cores, texturas e volumetrias. A mostra já foi montada nas cidades de Cachoeira, Feira de Santana e Salvador.

Sobre a autora

Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA, onde também fez Mestrado e formou-se em Jornalismo. Em 2011, fez pós-doutorado em Sociologia no Centro de Estudos sobre o Atual e o Cotidiano, da Université René Descartes (Paris V – Sorbonne). Entre 2003 e 2006, coordenou o curso de graduação em Comunicação e Produção em Moda da FTC Salvador, onde liderou o grupo de pesquisa Moda Mídia.

Atualmente, é professora associada da UFRB e líder do grupo de pesquisa Corpo e Cultura (UFRB/UFBA). Também atua na pós-graduação em Moda, Artes e Contemporaneidade da UNIFACS e no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da UFBA, além de participar do grupo Estética e existência da UFBA.

domingo, 9 de julho de 2017

HEROIS ANÔNIMOS, AMOR E CHUVA




Eu não sei o nome deles. Mas nem é preciso. A cena que presenciei no início da noite de uma sexta-feira vale mais do que um documento de identidade. Foi tudo muito rápido e as pessoas que passavam pelo local ou estavam dentro da loja certamente não entenderam o que estava acontecendo. Já estava bem escuro.

Chovia, aquela chuva fina e fria dos últimos dias. Primeiro parei o carro ocupando duas vagas, na pressa para pedir uma informação a uma das moças que trabalham nos caixas em um estabelecimento comercial, na avenida Getúlio Vargas. O segurança, devidamente fardado, me abordou e, gentilmente, me ajudou a estacionar corretamente.

Também fui gentil e agradeci, mas acho que ele nem ouviu, porque exatamente nesse momento um motociclista atropelou um ciclista, cujo corpo ficou estendido no chão. O segurança (aquele gentil, que me ajudou a estacionar o carro) correu para o meio da avenida e evitou uma tragédia maior, gesticulando para que os carros passassem pelo outro lado.

Ao mesmo tempo, um colega dele ajudava o motociclista, que também caiu com o tombo, a recolher seus pertences e retirar a moto do local. Tudo em questão de segundos. Ninguém pediu ajuda e muito menos mandou que eles fizessem isso. Um gesto que me fez acreditar que ainda é possível esperar algo de bom das pessoas.

De lá, depois de trocar umas moedas e fazer uma compra de R$ 1,87 (rsrsrs), fui visitar a princesa Alice, uma menina de 7 anos que está dando lições em muita gente grande nesses dias em que está em observação médica no hospital, sob os olhos vigilantes da mãe Kenna, familiares, amigos, tios – de verdade e de empréstimo, como eu – e das bonecas Barbie com quem divide a cama hospitalar.

E foi de Alice que eu ouvi a resposta para uma tia – igualmente emprestada – que queria saber o que ela gostaria de receber de presente: “Amor, o resto eu tenho”. Foi o que faltava para fechar a noite com chave de ouro e bem mais tarde, já em casa, driblar o frio duplamente enroscada: no cobertor quente e no corpinho acolhedor de meu neto Lucas.

Madalena de Jesus