sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

FIGURAS QUE SE ETERNIZARAM




Estejam aqui ou em outra dimensão, existem pessoas que ficam para sempre. Não apenas no coração e na memória dos familiares e amigos saudosos, que passado o momento da perda transformam a dor em saudade e seguem em frente. Elas são inesquecíveis de forma coletiva. Fazem falta à sociedade em que viveram, pelo que construíram ou até pelo que ainda viriam a construir. Porque são pessoas plenas, em todos os sentidos. Não para alguns, mas para todos.

Entre os feirenses, a interrupção do convívio com algumas dessas figuras latejam incessantemente. É como se dissessem: “Poxa, Egberto Costa, quantos textos carregados de emoção você ainda construiria se ainda estivesse entre nós?”; “Ora, Cida Machado, onde encontraremos alguém com a sua generosidade para melhorar esse mundo tão desigual?”; “Zequinha de Abreu, qual a graça de você se mandar daquele jeito, sem antes darmos umas boas gargalhadas”; “E você, Ideilton, quem disse que poderia partir tão de repente, sem nos deixar uns belos versos de despedida?” “E agora, Lampião, quem vai nos contar as histórias da sua “filha” Angélica”?

Bom, como o chamamento fica apenas no campo do imaginário, só nos resta manter viva a lembrança dessas figuras populares que, através de seu trabalho e sua trajetória de vida, deixaram exemplos e fizeram história. A história de Feira de Santana, a história de cada um e a história de todos que conviveram com os jornalistas Egberto Tavares Costa e Aparecida Machado, o policial rodoviário federal e músico Antônio Palles, o poeta Ideilton Ramos e o folclórico Fideles Marques, homenageados da edição de 2013 do Jornal Figuras Populares.

Madalena de Jesus

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

E A PAIXÃO PELO CINEMA VIROU LIVRO...




Ainda neste mês, o jornalista Dimas Oliveira está mandando para o prelo seu primeiro livro, “cinema demais ou era uma vez dezenas de filmes comentados e a situação do cinema em feira de santana”, que reúne colunas escritas para o jornal “Situação”, entre 1967 e 1970. Na época, dois cinemas em Feira de Santana, Íris e Santanópólis. A edição é por conta da Fundação Senhor dos Passos.

Fã de cinema e aprendiz de cinéfilo, desde 1955, com sete anos, que ele assiste filmes. Na adolescência era sempre desafiado por adultos a falar sobre direção e elenco de filmes. Era como se fosse um quiz testando o conhecimento que tinha por cinema e filmes. O seu interesse sempre foi crescente pela chamada sétima arte. Até hoje escreve sobre cinema em jornais e em blogs e sites.

Antes de escrever para o jornal semanário que existia então em Feira de Santana - estava com 19 anos -, no Ginásio Municipal Joselito Amorim, a feitura diária de um jornal mural manuscrito, “007” - homenagem aos filmes do agente secreto James Bond -, “a brincadeira de comentar filmes vistos”, como diz.
Depois, no Colégio Estadual, o jornal “O Berro”, feito com Geraldo Lima e Luiz Antônio Santa Bárbara, impresso em mimeógrafo a álcool e distribuído clandestinamente, continha espaço para cinema. Daí que veio o convite de Anotevaldo Gonzaga para escrever no jornal “Situação”.

O livro reúne pouco mais de 50 colunas, contidas em um álbum de recortes envelhecido (Foto: Jorge Magalhães), guardado mesmo com inúmeras mudanças de domicílio. As colunas estão sem datas. Apenas os anos são identificados. A ortografia - a exceção de termos como os franceses matinèe e soirèe -, foi ajustada a pontuação. “A integridade dos textos está mantida”, conta.

A capa é assinada pelo artista plástico Gil Mário, enquanto o prólogo e o epílogo são dos jornalistas Jorge Magalhães e Madalena de Jesus. A organização do livro é de Thomas Oliveira.

SE TODOS FOSSEM IGUAIS A VOCÊ...


Por Madalena de Jesus*

Texto escrito em 2008, especialmente para o Blog da Feira, quando a jornalista Socorro Pitombo foi homenageada pela Câmara Municipal de Feira de Santana com a Comenda Maria Quitéria. A essência continua a mesma, a amizade, a admiração e o respeito pela profissional e amiga, idem.  


O que falar sobre Socorro Pitombo? Muito mais do que um nome forte ela carrega consigo as marcas da competência, da seriedade e da responsabilidade profissional. Eu poderia desfilar aqui uma relação infinita de adjetivos para qualificar uma mulher que é referência de tudo o que de melhor existe no jornalismo. E ninguém pense que estou dizendo isso simplesmente pelo fato dela ser, senão a maior – e aí a questão física não tem a menor importância – a melhor amiga que alguém pode ter.

Nem adianta tentar traçar o perfil profissional de Socorro sem colocar uma dose considerável de ternura, porque ela é, antes e acima de tudo, uma pessoa extremamente carinhosa e meiga. Para quem não a conhece de perto, isso tem outro nome: gentileza. E não deixa de ser verdade. Pessoa de fino trato, como diria meu pai, o velho Zinho, que sabia reconhecer de longe o que as pessoas tinham de melhor.

Mas o que impressiona mesmo na personalidade dessa criatura especial, que aprendi a amar e respeitar, é o vigor e a capacidade de doação à profissão. Por trás de uma fragilidade aparente, ela mantém sempre uma postura firme: na labuta jornalística diária, na orientação dos filhos, no aconselhamento dos amigos, ou na condução da equipe que chefia. Fazer o melhor é a sua filosofia de trabalho e aí eu lembro Fernando Pessoa, que poeticamente ensina:


Para ser grande, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha,
Porque alta vive.

Conviver com Socorro Pitombo é um aprendizado contínuo. É incrível como ela guarda as características que marcaram o início de sua carreira, ainda como estudante da UFBA, no Jornal A Tarde, ao tempo em que se renova para acompanhar a evolução da profissão. E olha que houve muita mudança, da época das antigas máquinas de escrever para o jornalismo em rede digital. E ela lá: acompanhando, vivenciando, fazendo, aprendendo e, sobretudo, ensinando.

O que eu mais gosto na jornalista Socorro Pitombo é a audácia de fazer diferente, em um meio em que as coisas acabam parecendo tão iguais. Seja uma matéria especial para um grande órgão de comunicação ou um relise sobre um evento de pequeno porte realizado por um dos órgãos que assessora, a preocupação com a qualidade é sempre a mesma, assim como a vibração ao ver o seu texto publicado. Parece bobagem, não? Pois é exatamente aí que está a essência do jornalismo.

Talvez eu devesse me distanciar um pouco de nossos laços afetivos para falar do seu pioneirismo no jornalismo feirense – ela foi repórter policial num momento em que só aos jornalistas do sexo masculino era dado esse direito – enfrentando preconceito, mas também tirando vantagem, certo? Eu poderia também trazer à tona toda a sua experiência nos órgãos de comunicação da cidade, em assessorias de comunicação e até de seu afastamento da profissão por mais de uma década. Fato, aliás, do qual não se arrepende. Mas creio que isso não é o que realmente importa, pelo menos aqui e agora.

O fato é que às vésperas de completar quatro décadas na profissão, Socorro Pitombo se tornou comendadeira – é estranho, mas é isso mesmo e não comendadora – em sessão solene da Câmara Municipal. Sinceramente, desconheço homenagem mais apropriada. E olha que há muito tempo faço minhas incursões pelo jornalismo político! E para quem imaginar que exagero na minha avaliação, a honraria foi assinada não por um, mas por dois vereadores à época (2008): Getúlio Barbosa e Genésio Serafim. E, é claro, aprovada pelos demais.

Certamente nada mudou na vida da homenageada a partir do recebimento de tão honrosa comenda, que leva o nome de Maria Quitéria. Mas que é extremamente prazeroso ver a premiação da competência, lá isso é. E eu, como amiga-quase-irmã, admiradora e fã incondicional, lá estava, dividindo esse momento com Socorro e aplaudindo com gosto a iniciativa da Casa da Cidadania. Um gosto que pode ser traduzido nos versos que tomo de empréstimo, com a devida licença, aos poetas Vinícius (de Morais) e Tom (Jobim):

Se todos no mundo fossem iguais a você
Que maravilha viver.

* Madalena de Jesus é jornalista, radialista e professora

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

DE CORPO E ALMA



“Sou de Feira”. A frase é curta, mas carregada de significado, na voz tranquila e agradável do ex-professor de Educação Física, que encontrou na arte não apenas um meio de expressão, como de sobrevivência. Demitido da rede municipal de ensino após 15 anos de trabalho, sem maiores explicações, Adelson Brito mudou de profissão e de vida. Literalmente.

A própria casa, no Nagé, onde vive ainda hoje, virou ateliê. Primeiro para pintura de quadros. Depois para criação e confecção de roupas. Algumas bem extravagantes – ou diferentes, com o prefere – que ele próprio usava e passou a comercializar. Chamado de doido pelo jeito de vestir, Adelson garante que nunca ligou. “Só se joga pedra em fruto bom”, diz, o estilista.

No box que mantém no Mercado de Arte Popular, muitas peças chamam a atenção, inclusive as que ele usa: uma calça saruel com estampa de zebra, uma camiseta com camuflagem do exército e um catê, espécie de boné afro preto e branco. “Tenho mais ou menos 25 peças dessa, a maioria branca”, conta. Chama a atenção também variedade de cangas de praia com ilustrações de santos, com cores bem vivas.

Saída de praia, roupa de baiana, blusas, saias, chapéus... Tem tudo no Box de Adelson, que se orgulha do fato de suas criações já terem sido vendidas no mundo inteiro. Ele cita que pessoas famosas já usaram suas criações, como o estilista Ney Galvão (já falecido) e a cantora Gretchen. Uma peça inesquecível: “Todas”. Mas pouco depois deixa escapar felicidade de ter criado e confeccionado a roupa de casamento de um casal hippie.

Aos 59 anos de idade, Adelson fala de si mesmo com uma naturalidade impressionante. Sexto filho de um total de 12, foi o único a nascer em Feira de Santana. Seus pais moravam em Salvador e sua mãe, grávida, veio à cidade passear e acabou ficando. Mais tarde, ele trouxe todos os irmãos. Sobre seu estilo de vida, não há meias palavras: “Eu só quero ser o que sou”.

Madalena de Jesus

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

ORGULHO DE SER CORDELISTA




Durante 15 anos, Jurivaldo Alves da Silva manteve um ponto de venda de livretos de cordel em frente ao Mercado de Arte Popular, no centro de Feira de Santana. Este ano teve que deixar o local, por determinação do governo municipal. Mas ninguém pense que isso o esmoreceu para deixar a atividade. Pelo contrário, ele espera retornar, após a reforma do MAP, e enquanto isso vai por aí, de feira em feira, divulgando a literatura de cordel.

E foi na Feira do Livro que encontramos Jurivaldo, sorriso largo, de bem com a vida, cercado de cordel por todos os lados. Nem parece ter 67 anos. O entusiasmo ainda é o mesmo de quando tinha 12 anos e começou como folheteiro. “Rodolfo Cavalcante declamava e eu decorava”, lembra o cordelista, que tem apenas instrução primária. Na época inicial, conta, tropeçava em algumas palavras, mas com o tempo foi aperfeiçoando a leitura pela prática.

O cordel “E a terra vai brilhar outra vez com a vinda do Cometa Kohoutek”, de Rodolfo Coelho Cavalcante, lançado em 1973, mudou a vida de Jurivaldo, que foi vender a produção na cidade de Juazeiro. O sucesso foi tão grande que deu até para casar com Maria do Carmo Oliveira da Silva. “Na época soltaram o primeiro foguete brasileiro no Rio Grande do Norte e clareou o Nordeste inteiro”, lembra. Bem que isso dava um bom tema para um cordel...

Jurivaldo fala do cordel com uma mistura de amor e orgulho. E foram esses sentimentos que transmitiu à filha, Patrícia de Oliveira Silva, hoje com 38 anos, professora “e uma das 10 melhores cordelistas do Brasil”, diz, completando que ela já foi até premiada pela Academia Brasileira dos Cordelistas. Atualmente trabalham juntos, texto e capa dos livros.

O cordelista que também faz o Museu Itinerante do Cordel, com visita às escolas e incentivo à pesquisa sobre esse tipo de literatura, nasceu em Baixa Grande e correu mundo, mas foi em Feira de Santana que se encontrou. “Já vendi cordel até para francês”, conta, lamentando que a ex-senadora Marina da Silva o procurou para comprar um livro sobre meio ambiente e não o encontrou. Ainda está em tempo. Quem sabe da próxima vez.


Madalena de Jesus

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

EXCELÊNCIA EM JORNALISMO

Zadir Marques Porto: Seriedade a toda prova

Dizem que toda unanimidade é burra. Burrice mesmo é pensar dessa forma, porque a unanimidade existe, sim. E em Feira de Santana ela atende pelo nome de Zadir Marques Porto, o mais versátil profissional de comunicação que já atuou por estas bandas, transitando com a mesma seriedade em todos os segmentos, do rádio à música, do jornal à literatura.

Lá pelos idos de 1977, quando eu cursava Redação no Colégio Estadual, Zadir já era um conceituado jornalista, responsável pela sucursal do Jornal A Tarde. Tive o privilégio de tê-lo como orientador no período de estágio e com ele aprendi toda a essência da profissão, principalmente os valores que devem nortear o exercício profissional na área de comunicação.

Aparentemente sisudo, Zadir é um das pessoas mais bem humoradas que conheço. Mas tudo para ele tem que ser na medida certa, até o senso de humor. Só não há medida para a seriedade profissional, o cuidado com a escrita e a criatividade enquanto compositor. Sim, o velho Zamar (como o chamo ainda hoje) é poeta! Compõe e canta.

Nem é preciso dizer que ele não pensa em se aposentar, porque sempre fez do jornalismo a sua vida – o pessoal do Jornal Folha do Norte que o diga! Atua¬mente, Zadir divide o tempo entre a editoria do jornal, a produção do programa Linha Direta com o Povo, ancorado pelos radialistas Dilson Barbosa e Luiz Santos, na Rádio Sociedade, e suas incursões na música.

Isso é só uma breve citação do que o homem de comunicação Zadir Marques Porto representa para a cidade e para todos aqueles que convivem com a sua irretocável conduta profissional. Podem até dizer que sou suspeita para falar/escrever. E sou mesmo, porque divido com ele o mérito de meu sucesso como jornalista e professora de Literatura e Línguas Francesa e Portuguesa. Preciso dizer mais alguma coisa?

Madalena de Jesus

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

GOSTAVA DE MEUS TRÊS SAPOS...


Chego à minha casa, encontro minha lapinha (presépio) com algumas peças derrubadas, várias marcas de pegadas nos caminhos de areia e antes de colocar o Deus Menino dia 25, um dos três sapos que viviam no meu jardim há cinco meses passeava pela manjedoura!

Já havia brigado várias vezes com minha diarista porque ela queria colocar água sanitária ou sal nas costas desses animais! Inicialmente, não gostava deles, mas confesso que depois de queimar meu juízo tentando eleger um bicho de estimação que não danificasse as plantas, cheguei à conclusão de que o melhor seria criar inusitadamente os três sapos: um pequeno, um médio e um grande e pouco velhinho.

A mulherada odiava saber que dentro das plantas havia três sapos dormindo o dia todo! Diabos! Achavam que eles iram sair do nada para mostram-se elas! Sei não... Toda noite, eles saiam, comiam todos os insetos que encontravam pela frente, ajudando-me a controlar uma infestação. Cheguei até colocar um para dentro muro quando cheguei animadíssimo do bar, foi o caçula! Como era de esperar, pela manhã o quintal estava repleto de fezes deles! Muitas! No começo, fiquei com raiva, depois percebi que eles controlavam o número de insetos e ainda me davam adubo! Logo, providenciei uma colher de cultivar terra só para recolher aquele mundo de excrementos...

À noite, enquanto tomava meu vinho ou cerveja com meus amigos que riam da situação ou me inquiriam a respeito destes animais de estimação, eu os diziam: “me digam o nome de um bicho que possa criar que não coma e/ou destrua as plantas?!”. O silêncio pairava. Ademais, meus sapos me ajudavam, não gastava com eles e não destruíam nada meu até agora! Só eram tradicionalmente tidos como feios...

O fato é que tive de colocar os meus três bichos inusitados de estimação para fora. Um deles levei até a esquina e o velho deixei olhando para uma casa à frente, parecia está abandonando seu lar... ou está magoado comigo. Vedei os portões e fui estudar. Em casa de volta, acho o pequeno, que voltou da esquina, tentando entrar por um dos portões, justo o único que eu convidei para morar no jardim de casa...

Sentei-me agora ao lado da lapinha arrumada e, acredite, senti um vazio um remorso, sei lá... Eles acharão uma casa, um canto ou quiçá eu abra o portão para que eles entrem de volta se eles ainda o quiserem, mas tirei uma lição disso: amamos os nossos amigos, namorado (as), pais, alunos, entre outros, pelo que elas nos marcaram. Precisei conviver com aqueles animais tão mal falados para poder gostar deles e expor que me deu pena tirá-los de casa. Bicho tem muito de gente e muitas pessoas não passam de bicho: amam apenas o que veem!

Jadione Almeida, à espera do natal de 2013