domingo, 27 de março de 2016

PRIMEIRAS ÁGUAS: VELHO CHICO - UM RIO CAUDALOSO E SEUS PERCURSOS



A novela Velho Chico, de Benedito Ruy Barbosa e seu clã, nas suas duas primeiras semanas de exibição já diz a que veio: emocionar o espectador afeito aos dramas de nossa brava gente brasileira. Promete e tem cumprido a função de nos levar ao encontro dos grotões do Brasil rural com todas as suas cores e tintas, sons e sabores. No primeiro capítulo, cenas passadas numa Feira Livre, (espaço por excelência de encontros e matrizes de tantas cidades brasileiras) trazia num palco mambembe a encenação de um mito fundador do Rio são Francisco. Teria ele brotado das lágrimas da índia Iati, habitante de uma tribo da Serra da Canastra, que ao chorar pela morte do guerreiro amado, dera vida ao protagonista que nomeia a  trama. Mais adiante (e já em muitas cenas) soa como música de fundo a belíssima oração de São Francisco de Assis, explorando um dos eixos principais da trama, a fé católica de herança portuguesa vista sob várias nuances. Em outra cena Doninha (Bárbara Reis), brilhante no seu papel, representante da matriz africana, uma espécie de griot, contadora e guardiã  de histórias, narra para as crianças uma lenda da serpente de fogo ligada à origem dos ancestrais da Casa Grande que ela habita. A novela é portanto um pedaço do Brasil, um pedaço de nossa história, escrita por tantas mãos, canetas e armas. Rio nacional caudaloso que atravessa os espaços e as personagens da novela.

Afrânio de Sá Ribeiro (Rodrigo Santoro volta às novelas com tudo), o novo Saruê, coronel à contragosto é o próprio herói problemático, angustiado pelo destino que não era seu, mas foi chamado a cumprir. Saltando das páginas de Jorge Amado, Adonias Filho, João Ubaldo, Lins do Rego ou ainda Guimarães Rosa, vive num embate interno e externo, representado pelo dentro e fora da Casa. Da relação doentia com a mãe, a diabólica beata Dona Encarnação (Selma Egrei, um quê de Gabriel Garcia Marquez), da influência perniciosa do capataz Clemente (Júlio Machado), do amor interrompido naquele outro mundo da Tropicália, do conflito dos negócios, do casamento na ponta da faca à viuvez prematura, emerge um drama em gente, que não conseguimos rotular de bem ou mal. O que sabemos é que é pungente assisti-lo e prazeroso acompanhar os demônios que lhe habitam. Talvez seja essa a cabeceira do Rio, mas há outros afluentes dignos de nota.

A casa do Capitão Rosa (Rodrigo Lombardi) e Dona Eulália (Fabíula Nascimento), espécie de voz socialista em meio aquele capitalismo-coronelismo-voraz, é um espaço de afetos. Adoção, fraternidade, generosidade, trabalho digno, amor verdadeiro que acolheu a família de Belmiro (um Oscar para Chico Diaz e Cyria Coentro, casal de retirantes espetacular) e  na dor e no leite materno se irmanaram. Em contraponto com a Casa dos saruê, aqui é um lar, com uma mesa sempre posta e lume aceso.

Na figura do Padre Romão (Umberto Magnani) temos um amálgama de várias faces do catolicismo que vai de Padre Cicero (físico bem semelhante), passa pelas causas sociais (vide cena do soro caseiro), à uma visão teológica panteísta (sua explicação lembrou um poema de Alberto Caeiro), sem perder a função de conselheiro e pastor daquele rebanho, gado difícil de conduzir.

Notemos ainda a sofisticação de algumas estratégias narrativas presentes na trama. A presença das cantorias dos violeiros, que como uma espécie de coro-grego-sertanejo vai amarrando as pontas soltas da narrativa através de suas melodias. O ritmo frenético do primeiro capítulo (sexo, drogas e Tropicália) para situar em que mundo vivia Afrânio em Salvador e em que mundo ele passaria a ser Senhor, lugar onde o tempo está estacionado e as relações são ainda coloniais/medievais, aqui seu diploma de Dr. nada vale. Ou ainda as conversas no Bar, único espaço de socialização, simulação de um parlamento no qual os discursos emergem à cada gole de pinga.

Outro aspecto digno de nota é a qualidade da direção de arte, figurino e fotografia com a assinatura inconfundível e autoral de Luiz Fernando Carvalho. Há muito a se elogiar em todas as cenas. Escolho aqui a casa de Leonor (Marina Nery, versão cabocla de Maria Fernanda Cândido/ Sophia Loren) com suas paredes sem reboco ou tintas amareladas, santos esmaecidos, escassa mobília de madeira, potes de barro, lençóis no “quarador”, retratos pintados, enfim uma casa sertaneja com certeza. Os altares, tanto das igrejas e capelas quanto das casas, é outro espetáculo pormenorizado em grande estilo.

Nesse rio e sob ele, nesse pedaço de Brasil, cabem muitas histórias. Latifúndio versus minifúndio, ideais cooperativistas, criança desaparecida, religiosidade mística e carnavalizada, amores vibrantes, vinganças de família, ingredientes que nos prendem nesse barco da ficção desde sempre. Que o Nego D’água e as Carrancas mantenham a narrativa navegando nesse fluxo! Em breve as águas baixarão e veremos o que ainda nos reserva os outros portos desse novelão!

Alana Freitas, professora

quinta-feira, 17 de março de 2016

CRIANÇAS RECITAM POESIA COMO GENTE GRANDE







“Viemos aqui para encantar”
(Luís Henrique, sete anos)

Os versos dos poetas Cecília Meireles e Elias José ganharam uma interpretação especial no recital de poesia apresentado por um grupo de alunos do segundo ano da Escola João Paulo I, no campus da FTC Feira de Santana. Ao todo, 50 crianças com idade entre seis e sete anos participaram da atividade.

Quem assistiu o recital ouviu declamações emocionantes de poemas como “As meninas” e “O eco”, de Cecília, ou “A casa e seu dono” e “Picolé”, de Elias José, poetas escolhidos pelos próprios estudantes, cujas obras foram estudadas ao longo de dois meses. Eles também falaram sobre o Dia da Poesia, comemorado em 14 de março.

“É uma sequência didática e a culminância é a apresentação”, explicou a coordenadora de Ensino Fundamental da escola, professora Karine Oliveira. O trabalho foi acompanhado pelas professoras Juliana Santos Asevêdo e Miriam Sena, responsáveis pelas duas turmas, além de diretores da unidade de ensino e pais.

O grupo foi recepcionado pela diretora adjunta da FTC, professora Marcly Amorim Pizzani, que parabenizou a iniciativa da escola e o empenho das crianças. “Vocês nos encantaram e fizeram nosso dia mais feliz”, disse, ao receber os agradecimentos feitos pelos alunos Luís Henrique Pereira Fraga Silva e
Giovana Fontana Chagas.

O professor Thiago Lins, de Linguagens e Língua Portuguesa, disse que “a poesia é o contato com a palavra viva” e que as crianças devem ter acesso a esse tipo de leitura “quanto mais cedo melhor”. Já o professor Carlos Magno, que também leciona as disciplinas, brindou os alunos recitando poemas de sua autoria, a exemplo de “Diálogos amorosos” e “Chuvas de Verão”.

Madalena de Jesus

sexta-feira, 11 de março de 2016

BETO PITOMBO CANTA PARA AS MULHERES NA FEIRA DA PRAÇA



O show será em homenagem às mulheres, mas todo o público que for à Feira da Praça, na Praça da Matriz, neste sábado (12), será brindado com a apresentação do cantor Beto Pitombo, programada para as 19h. O repertório, que tem a marca da qualidade musical característica do seu trabalho, inclui antigos sucessos e novas composições. 

Será um acústico, com Kito Matos no violão de sete cordas, Beto no de seis e Gabriel Ferreira na percussão. “Um encontro de velhos e novos amigos”, define o cantor, que mostrará canções de sua autoria e “de outros compositores que eu gosto de interpretar”, como ele mesmo costuma dizer.

No repertório, dentre outras músicas, a eterna “Valsa Qualquer”, um dos sucessos que consolidou sua carreira, “Beco do Mocó” e “Estrada Velha”, mais “Natureza Viva”, de Outran Borges. Beto Pitombo é feirense, de nascimento e de alma.

Madalena de Jesus