*Dandara Barreto é jornalista
*Dandara Barreto é jornalista
Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo
Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim
De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás.
Escrevi esse texto logo após a perda do meu pai e a sensação ao relê-lo foi a mesma, uma mistura de alegria, saudade, tristeza. Porque ter vivido com ele e não poder mais compartilhar da sua presença causa tanta coisa, menos indiferença. Meu pai era pura amizade, pura solidariedade, nunca sucumbiu às vaidades que cegam e corrompem até os melhores. Decidi sempre fazer algo no mês de seu aniversário e esse ano como estamos vivendo uma crise sem tamanho resolvi contar com a ajuda dos amigos e familiares e arrecadar cestas básicas que forem possíveis. Então se alguém puder e quiser doar qualquer quantia segue o pix: nerymaira4@gmail.com (Maíra Nery)
Há um ano e nove meses meu pai partiu - rumo ao mistério. Fiquei tentando juntar o que restava e sobreviver em meio ao caos que restou. Parecia que não tinha mais como piorar, perdi o pai, o meu amigo para sempre. Ele não fora viajar, nem ido ao bar da esquina. De repente e aos poucos, como quem pega no sono, ele tinha morrido, palavra que mais parece um palavrão. Eu não sabia como lidar com a Maíra que tinha ficado. Meus instintos me pediam para não desistir, sobretudo em honra à memória de meu pai, que sempre me ensinou a continuar, a ir, mesmo quando não me restasse mais força. Aprendi com ele a ter fé na vida, a atravessá-la com coragem, determinação e dignidade, mesmo em face do maior obstáculo.
Lembro como se fosse hoje nosso último diálogo, quando não sabíamos que não travaríamos mais nenhum outro, dentre outras coisas, ele me pediu que cortasse o cordão umbilical com ele, dito isso na véspera da sua partida fez até parecer uma despedida amorosa de um pai sabendo que tem que partir e então pede à filha amada que continue, que seja firme e forte e no final com a voz mais doce possível, quase como música diz em voz firme e tenra - Eu te amo, minha filha.
Os dias que se sucederam à sua morte foram quase a minha própria morte. Comia o mínimo possível, emagreci muito, fiquei frágil, egoísta e passava o dia migrando da tela do celular para o computador. A dor de enfrentar a morte de alguém muito amado é a dor mais doída que pode existir. Nós não lidamos bem com a finitude.
Nesse processo de luto aprendi também que não posso controlar tudo, as coisas acontecerão alheias às minhas próprias vontades e nem sempre me sentirei justiçada e tudo bem. A vida vai continuar, as contas precisam ser pagas, os filhos precisam ser cuidados. E dia a dia vamos também descobrindo novas formas de nos relacionar com aqueles que se foram. Meu pai vive em mim, o amor que cultivamos, os diálogos que travamos, os conselhos que ele me deu, as cervejadas compartilhadas não deixaram de existir só porque não poderão serem mais vividas. Viver na memória de alguém também é viver e uma belíssima forma de viver. Hoje seu olhar doce, sua altivez, sua força, sua compaixão, sua solidariedade estarão em mim, nos meus filhos e nos filhos dos meus filhos e assim ele, um pouco dele, sempre estará vivo.
Quando menos esperei meu coração foi se acalmando, a dor foi cessando. Aquele passarinho teimoso cantarola, eu volto aos poucos a sorrir. O amigo aparece, o filho faz um afago, e eu novamente relembro seus conselhos - Minha filha se conforme, dói menos. Eu fui aceitando, fui seguindo, florindo novamente.
Muitas coisas mudaram, eu mudei, a vida mudou para mim, obviamente a saudade não, ela hoje é minha companheira, minha camarada e já sabemos lidar uma com a outra, mesmo naqueles dias que parece que ela resolve me espancar. Bem, hoje parece que dobrei de tamanho, mesmo mutilada, carrego meu pai em mim e poucas coisas me assustam. Se o dia é ruim, se perco algo valioso relembro do meu pai, o vejo sorrindo, lembrando-me que é só um dia ruim mesmo, talvez um amor desleal, um amigo injusto, um chefe ruim, um bug do sistema e vai passar, eu vou levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Tudo sempre passa.
Eu desejo sinceramente que todos possam viver a plenitude de um amor e amizade tão sinceros quanto o que compartilhei com o meu pai e que esse amor exploda em luzes e seja capaz de iluminar qualquer vida, como iluminou a minha, e que tenham belas memórias, que vivam fartamente como ele viveu. E sobretudo que sejam imensamente felizes, mesmo com a dureza da vida, como eu tenho sido, que tenham filhos sorridentes, amigos leais, amores intensos, dias bonitos, sucos gostosos, chocolates quentes.
Anchieta Nery
Presente!
Maíra Nery é estudante de Letras e filha do jornalista e professor Anchieta Nery
Por Alana Freitas El Fahl
Na última quinta-feira, 21 de abril, dia simbólico na História do Brasil, após mais de dois anos sem ir ao cinema, me permiti o presente vivificante de assistir ao brilhante Medida Provisória. Cinema lotado aqui na minha Feira de Santana, repleta de jovens de todas as idades, inclusive meu filho, sobrinhas e muitos rostos conhecidos e comungantes daquele banquete. Por quase duas horas experimentamos a gloriosa “Suspensão temporária da descrença” cunhada por Coleridge sobre a magia da literatura.
A plateia estava atenta e sedenta por uma boa história e a encontrou. O que começa como uma aparente comédia de costumes evolui para um eletrizante thriller com notas de trama policial e de aventura, mas preservando aquele humor irônico que apreciamos e que desafia nossa reflexão para o ontem e o hoje e nos faz engasgar com a pipoca ou com o papel da Fruitella (feita para fruir a tela) no meu caso
O filme é uma adaptação do livro e peça de teatro do ator e dramaturgo baiano Aldri Anunciação, Namibia, Não (2012), rosto familiar para nós que prestigiamos a Rede Bahia e que agora será visto por milhares, merecendo todos os prêmios. Com direção de Lázaro Ramos (também dirigiu a peça acerca de dez anos) e presença de grande elenco (e elenco grande, inclusive do próprio Aldri, como Ivan, personagem chave na trama) e equipe de mais de 800 pessoas com trabalho direto e indireto. A narrativa retrata uma distopia na qual, em pleno 2021 ou 2022, o governo brasileiro aprova uma medida provisória que decreta que todos os “melaninados” retornem para a África como uma espécie de política de reparação pelos 400 anos de escravidão.
A trama tem por protagonistas um trio, dois primos e a esposa de um deles, o jornalista André, o advogado Antônio e a médica Carolina/Capitu, vividos respectivamente por Seu Jorge, Alfred Enoch e Taís Araújo que emprestam seu corpos e almas aos papeis. Uma família negra que vive em um prédio de brancos, onde o único outro negro é o porteiro. Aqui, vale destacar que o termo protagonista é mesmo explorado com a força de sua etimologia, esses três serão aqueles que primeiro lutam e resistem, os dois desde o princípio e ela, na medida em que toma consciência de seu papel social sufocado sob o jaleco.
Destacamos que os nomes dos três aludem ao século XIX, os abolicionistas negros, o engenheiro André Rebouças, o advogado e poeta Luiz da Gama, ambos jornalistas combativos, e nossas personagens ficcionais A Moreninha e a nossa cigana oblíqua e dissimulada (faz muito sentido na evolução da personagem, de romântica à realista). Ressalte-se que, em paralelo aos protagonistas, todo elenco brilha em cenas de qualquer tamanho, às vezes apenas com um olhar, uma fala, um gesto, um silêncio eloquente ou em uma marcha coletiva.
A trama é muito rica em detalhes e referências que vão se costurando em nossa frente. Acredito que o grande estalo criativo da obra é a reprodução do tempo passado no presente. Cenas coloniais ligadas à geografia da escravidão como a captura violenta (vide Pai contra Mãe de Machado de Assis), a fuga para as matas, o afrobunker em lugar dos quilombos, acontecem na paisagem urbana do Rio de hoje. Bem como cenas do século XX e até de nosso passado bem recente são reproduzidas numa espécie de espelhamento atemporal.
A gramática da Ditadura Militar está toda posta no Ministério da Devolução (Que nome e que ministro!), nos porões, nos arquivos, nas portas fechadas, no discurso dissimulado que faz parecer que um absurdo é uma dádiva, na votação da câmara (“pelo meu país, pela minha família” XX E XXI). Essa dança cronológica enriquece muito o universo distópico e mostra que o surreal coexiste em qualquer tempo. O “como deixamos isso acontecer?” de André é uma marca palimpsestica de que todos esses brasis estão vivos e podem nos surpreender...
Atentem para o momento em que a Medida Provisória é aprovada e o segurança da inspetora Isabel, referência explícita ao nome da Redentora, atuação irretocável de Adriana Esteves, imediatamente prende o seu colega “melaninado”, a cena soa como um eco da famosa fala de Pedro Aleixo, vice de Costa e Silva na ocasião do AI 5, “Presidente, o problema de uma lei assim não é o senhor, nem os que com o senhor governam o país. O problema é o guarda da esquina”. E o filme é cheio de guardas da esquina. Cenas assim se reproduzem no filme, muitos e muitos ecos e intertextos gritam em muitos momentos.
Por falar em espelhamento, uma das cenas mais fortes do filme se dá na morte simultânea de André e Santiago, Pablo Sanábio, braço direito de Isabel que se arrepende por amor a Ivan (desculpem o spoiller) e muda de lado. Cenas de brutalidade que se dão tanto na superfície quanto no afrobunker, guiadas por razões diferentes, mas ambas pautadas no ódio que cega, destrói a razão e gera dor. Outras de força latente é a cena do centro cirúrgico invadido, a luta da namorada de André (Mariana Xavier) tentando ajudar de todas as formas ou banho de André lavando a tinta btanca.
E é nesse afrobunker que coisas lindas também acontecem, Dona Helenita/ Diva como uma espécie de sacerdotisa da emoção, da razão e da ação, não posso falar mais nada dela para não dar mais spoiller, Berto/Emicida trocando armas por livros, a assembleia liderada pelo ancião numa atuação arrebatadora de Hilton Cobra, a cortina de Capitu com fotografias de pessoas inspiradoras e as aparições rápidas e marcantes de tanta gente iluminadora dessa luta contra o racismo e outras violências (Tia Má, Luana Xavier e cia).
Não posso terminar sem falar que a trilha sonora (Elza Soares, Cartola e cia, quanta Sapiência!), os cenários, a fotografia, o texto, o figurino, esses merecem rios de caracteres, só Dona Izildinha daria uma tese, só poderia ser vivida por Renata Sorrah com aquela roupa, aquele cabelo e aquele discurso (conhecemos muitas por aí) e ainda devo dizer que dá para rir muito em alguns momentos, afinal a Bahia dá um trabalho danado, né não? Até o Japa...Ó paí ó...
Precisamos de arte, precisamos de artistas, precisamos daquele soco catártico, daquele aplauso no final, precisamos de ficção, precisamos dessa “subersiva alegria”. Obrigada, Lázaro e cia, a gente te viu na marcha final (cameo) e esperamos te ver muito em trabalhos assim, onde você vai de mãos dadas com tanta gente linda...Agora, deixe-me ir, preciso andar, rir para não chorar...A marcha é contínua e continua ...
P.S. Os policiais todos aparecem de máscaras, e aí leitor?...
Alana de Oliveira Freitas El Fahl é Professora de Literatura Brasileira e Portuguesa na Universidade Estadual de Feira de Santana
Nesse texto, o escritor
Graciliano Ramos faz uma analogia entre o ato de escrever e a prática de lavar
roupa. Da mesma forma, o também escritor Rubem Alves defende, em uma belíssima
crônica, que escrever e cozinhar são ofícios bem próximos. Já o poeta João
Cabral de Melo Neto ensina, com muita propriedade, que ‘escrever é como catar
feijão”. Parece simples...
Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer.
Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.
Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.
(Graciliano Ramos)
*Por Alana Freitas
Para Michel, meu amor[i]
Devo começar dizendo que vi a primeira versão de Pantanal em 1990 e que me lembro de muitas coisas daquela época longínqua, mas devo dizer mais, estou vendo verdadeiramente agora a força dessa história e o caudaloso rio e todos os afluentes que a compõem e devo dizer mais ainda: Ela está conquistando novamente um público cativo e sedento por boas novelas e novos telespectadores que já tinham abandonado a telinha e outros tantos jovens que estão saboreando esse biscoito fino pela primeira vez.
A força da trama reside, sobretudo, no choque de dois mundos. Um marcado pela natureza, o outro pela cultura. Um marcado pelo Pantanal, ambientes abertos e sua exuberância. O outro pelo Rio de Janeiro, seus espaços fechados e sua endogenia. Num vigora um certo código de ética. Noutro, as relações são vazias. E esses dois mundos se encontram e se chocam através do malfadado casamento de Zé Leôncio e Madeleine e no fruto cruzado dessa relação difícil: José Joventino, Jove, símbolo da intersecção desses dois mundos. Filho sempre deslocado onde quer que esteja, aqui ou lá, lá ou aqui. No Rio ele não é o mauricinho esperado, no Pantanal ele não é o peão desejado. Observem o guarda-roupa dele com suas camisetas panfletárias (Maio de 68, universo Rock and Roll e outras mensagens) e gastas, sua voz vacilante e seu olhar perdido magistralmente vivido pelo Jesuíta Barbosa.
Vale lembrar que Jove, apelido herdado como diminutivo do nome do avô, é um dos nomes de Júpiter, o correspondente romano de Zeus, Deus pai para os gregos, e que a trama também circula em torno da figura paterna, sempre problemática e em busca de um ideal. Tadeu, o bastardo, sofre com sua condição de filho reserva, José Lucas de Nada e sua procura, Guta que repele a figura do pai ruim, Muda que quer vingar a morte do dela, e no centro de tudo José Joventino, José Leôncio e Jove, o trio que costura a narrativa.
E o universo mítico não para por aí, vejamos o reflexo de Caronte em Eugênio, Almir Sater virtuoso, que protagonizou uma bela cena de viola também de pai para filho, um rito de passagem mágico ou tantas lendas ribeirinhas dos encantados que tanto nos encanta. Observe que é uma novela lenta com cenas longas e muitas paisagens, narrada em um tempo mais contemplativo que da ação propriamente. E vamos seguindo seu fluxo. Os espaços são relevantes na condução da história. As cenas da família do Rio, sempre são antecedidas pela imagem da casa que se apresenta em franca decadência assim como aquele clã que só se relaciona entre si e lutam para manter o nome que já nada diz, tudo muito outonal. No Pantanal, as frentes da casa sempre aparecem também, mas de forma solar, com promessas de primavera.
O Pai Maior, assim chamemos José Joventino, abandona a cultura e se integra na natureza, dando vida à fantástica personagem do Velho do Rio, uma figura incontornável, enigmática, que encarna o arquétipo do Mentor, não há adjetivos para Irandhir e Osmar Prado em suas atuações. Quando o Véi entra em cena, nós aqui do outro lado da tela, também o reverenciamos e recebemos seus conselhos. Os ecos do conto A terceira margem do rio de Guimarães Rosa são evidentes, aliás, quem foi mais gênio que ele em pintar o metafísico no coração do Brasil. Seu herdeiro José Leôncio, Marcos Palmeira nosso matuto dos bons, se embrutece, mas não muito, a fim de fazer fortuna e deixar para seu sucessor aquele império de terras e gado, mas Jove não quer nada disso, e nem sabe o que quer de verdade e por isso é questionado, reeducado e meditativo todo o tempo. Três homens do mesmo sangue muito próximos e muito distantes.
E nesse conflito nasce o amor pujante de Jove e Juma Marruá (linda e talentosa Alanis), a “menina só natureza” que desconhece os meandros da cultura e age por instinto (na infância ela e a mãe se cheiravam como os bichos fazem), e os dois vão dando aula um para o outro sobre o seu mundo e construindo um casal improvável na cultura e possível na natureza. Mais uma vez o amor se dá entre natureza e cultura, é sina do pai e do filho amar mulheres de mundos diferentes. As cenas da alfabetização de Juma por Jove são de rara beleza e pureza, assim como ela o ensinando a caçar, além das lições de aprendizagem amorosa que são tanto sensuais quanto ingênuas. Um amor e uma cabana é possível? Veremos sem pressa...
Outro aspecto de destaque nesse remake de Pantanal reescrito por Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa (Pai Maior) é a atualização de alguns discursos como as questões relacionadas à ecologia, ao agronegócio, ao feminismo e afins, mas sem pesar a mão porque se for didático demais cai na panfletagem e acho que o Brasil está gostando e precisando muito é de ver mulher virar onça, velho virar sucuri, casal se amando no rio e moda de viola ao luar. Vale lembrar que a novela presta homenagem ao seu criador em alguns momentos, as camisas de Tadeu trazem o nome Mezenga (Rei do gado) e a avó de José Lucas, é a cafetina Jacuntiga ( Renascer), além do elenco de atores que sempre trabalha em suas tramas que têm por mote o universo rural, o chamado Brasil Profundo.
Antes de acabar essa prosa, devo dizer que as tramas secundárias também nos enredam, quem não está torcendo pela virada de Maria Bruaca, ou para saber do desenredo de Muda, ou apaixonado pela bondade e sabedoria de Filó (Dira Diva) e tantos outros pormenores que tornam a obra grande como os rebanhos de Zé Leôncio...Ara...Já ia me esquecendo de um pormenor dos melhores, Renato Teixeira, dando vida ao personagem vivido por seu filho na primeira fase, cantando a amizade no momento de sua morte, bonito demais e a gente não se cansa de ouvir de novo e de novo, eu tenho um cavalo preto....E como a novela é linda, louvemos a amizade, esse sentimento mais lindo do mundo...A ficção e os amigos têm me ajudado a sobreviver:
Amizade Sincera (Renato Teixeira)
A amizade sincera
É um santo remédio, é um abrigo seguro
É natural da amizade
O abraço, o aperto de mão, o sorriso
Por isso, se for preciso
Conte comigo, amigo, disponha
Lembre-se sempre que, mesmo modesta
Minha casa será sempre sua
Amigo
Os verdadeiros amigos
Do peito, de fé, os melhores amigos
Não trazem dentro da boca
Palavras fingidas ou falsas histórias
Sabem entender o silêncio
E manter a presença mesmo quando ausentes
Por isso mesmo, apesar de tão raros
Não há nada melhor do que um grande
Amigo, amigo, amigo...
Se alguém procurasse Maria São Pedro de Souza Estrela no bairro Campo Limpo, certamente não iria encontrar. Mas Bia, aí sim. Não há, por aquelas bandas, quem não conheceu a líder comunitária que acolhia a todos. “Se não puder ajudar, não atrapalhe”, dizia ela, atribuindo a citação aos seus antepassados.
Sempre estava presente nos eventos das mais diversas áreas, mas era na Cultura que se encontrava. Também pudera, tem um filho cantor (Gilsan do Reggae) e uma filha produtora cultural (Lurdes Santana). Teve ainda mais duas filhas (Claudia, Ana Rita e Sueli). Merendeira de escolas públicas por muitos anos, alimentava também a alma das pessoas que a procuravam.
Bia deixa filhos, netos e bisnetos, além de uma legião de admiradores que conheceram a sua força de mulher preta, que transformou as dificuldades da vida em ensinamentos e amor ao próximo. Viveu até os 93 anos como uma verdadeira estrela, que espalha luz por onde passa.
A guerreira se foi, mas seu exemplo permanecerá.
Madalena de Jesus é jornalista, escritora e professora de Línguas Portuguesa e Francesa e Literatura