terça-feira, 9 de fevereiro de 2016
MINHAS TARDES COM MARGUERITTE: UM CANTEIRO DE PALAVRAS E AFETOS
Filme Francês de 2011, dirigido por Jean Becker, adaptação do livro de Marie-Sabine Roger, La tête en friche, que significaria, aproximadamente, em português: cabeça ainda não cultivada. No Brasil, recebeu o doce nome de Minhas tardes com Margueritte. Juntemos os dois títulos e temos uma ideia perfeita do roteiro do filme. Uma bela história da amizade improvável entre uma senhora culta, elegante e solitária e um bronco de meia idade, que vive de bicos e tem como marca maior uma dificuldade com a linguagem. São antagônicos em tudo, peso, idade, cultura, sofisticação, todavia serão atados através da aprendizagem simultânea desses mundos tão aparentemente distantes. Margueritte (Gisèle Casadesus) e Germain (Gérard Depardieu) representam com fulgor esse misto de drama com toques bem dosados de comédia. Ela especialmente parecida com Dona Cleonice Berardinelli, nossa mestre maior da Literatura portuguesa no Brasil, para mim um grato presente.
Conhecem-se numa praça onde observam um bando de pombos (sempre unidos e protegendo uns aos outros, um dos símbolos da agregação e da necessidade de nomear o mundo, principais temáticas do filme). Ela sempre lendo seus clássicos, desperta o interesse daquele homem. E daí as conversas começam e se enredam com a história da vida sofrida dele, mostrada através de magníficos flashbacks, que nos põem a par de sua trajetória de vida como filho único e sem pai de uma mãe impiedosa e de suas muitas dificuldades com a linguagem e a leitura, frutos de uma escola cruel com professores igualmente cruéis.
Uma das cenas mais belas do filme acontece quando Margueritte (com dois tt, dado relevante para seu processo de encantamento com a linguagem) lê para ele A peste (1947), obra prima de Albert Camus, e as imagens da epidemia dos ratos vão invadindo sua mente e a nossa também (outra representação feliz do filme, a forma como a literatura é capaz de trabalhar e ampliar nossa leitura de mundo).
Destaca-se também a relação de Germain com o dicionário, na cena em que ele vai lendo no Petit Robert, presente da sua mestre, o significado de algumas palavras para o seu gato, tentando reproduzir o que sua amiga sábia faz com ele, mas esbarra na complexidade da língua que não dá conta de nomear plenamente o mundo, a variedade de seus tomates por exemplo.
Ainda vale ressaltar, o ciclo de amigos de Germain e a relação com sua namorada (vai crescendo ao longo do filme), ainda que gozadores e canalhas há ali um princípio de fraternidade. São solidários ao seu modo, mas como um dos motes do filme, é “difícil dizer”, emblema disso é a tentativa cômica de Germain em consolar a matrona dona do bar, abandonada pelo amante jovem por uma mocinha, as emendas são sempre piores que os sonetos. Todavia, na medida em que seu processo de letramento com Margueritte vai se desenvolvendo, torna-se difícil sua comunicação com esses antigos pares, seu mundo vai ficando maior, assim como seu canteiro de hortaliças. Já com a namorada, o conhecimento que vai adquirindo melhora em muito a qualidade de seu amor por ela, o romance fortuito se transforma no final em uma família com a presença inesperada de Margueritte como membro especial, outra sacada inteligente do filme, as famílias vão muito além dos laços de sangue.
Filmes assim são edificantes para além do prazer da experiência estética, pois nos faz acreditar no poder dos laços afetivos e na magia do conhecimento através dos muitos livros citados na trama e das conversas profundas entre as personagens. Saímos melhores depois de uma hora e vinte minutos imersos no universo de tanta sensibilidade ao retratar o mais fino tipo de amor: A amizade, que só é verdadeira quando se dá através da partilha. E emoldurada pela força encantatória dos livros e das palavras ficou ainda melhor...
Alana de Oliveira Freitas El Fahl, Professora de Literatura Brasileira e Portuguesa na Universidade Estadual de Feira de Santana-BA
quarta-feira, 13 de janeiro de 2016
LIGAÇÕES PERIGOSAS: ENTRE CARTAS, ALCOVAS E SUSURROS...

A minissérie exibida nesse início de ano é uma adaptação do clássico francês Les liaisons dangereuses, de Choderlos de Laclos (1741-1803), publicado em 1782. Romance do gênero epistolar que narra, ao longo de mais de uma centena de cartas, os bastidores da aristocracia francesa antes da Revolução (1789), através da correspondência entre A Marquesa de Merteuil e o Visconde de Valmont. Ricos, frios, libertinos, ociosos e amorais encontram seu prazer na manipulação e sedução. Aliás, essas são as palavras de ordem da obra, também e tão bem preservadas na adaptação brasileira (bem como para o cinema americano nos anos 80, excelente filme com Glenn Close e John Malkovich).
Escrita por Manuela Dias com supervisão de texto de Duca Rachid, direção geral de Vinícius Coimbra e direção de núcleo de Denise Saraceni, a trama foi ambientada no Brasil na primeira metade do século XX. Com fotografia, figurino, cenário e texto irretocáveis, temos a nossa Marquesa, Isabel D´Ávila de Alencar (Patricia Pillar) e o nosso Visconde, Augusto de Valmont (Selton Mello). Mestres nos jogos vorazes dos destinos, usam as personagens ao seu redor como se a vida fosse um tabuleiro, onde eles vão movendo as peças e conduzindo os fios das criaturas que se tornam títeres indefesos em suas mãos, fantoches dirigidos pelo casal de protagonistas. Vale lembrar que manipular vem do latim manipulus, manipulare, manipulatio, manipulator, compostos por sua vez das raízes latinas manus (mão) e pleo (encher), ou seja, sob suas mãos se enredam todos.
Um dos aspectos mais intressantes da trama é o tom de segredo metaforizado pelas cartas e seu lacre vermelho. Tudo é muito sutil, muito silencioso, muito baixinho, os sussurros vão regendo a narrativa, como as teias da aranha que vão lentamente atraindo suas presas. Através das frestas das portas, do trançado das gelosias, da fechadura das alcovas, das remadas dos botes e dos cocichos dos subalternos os planos de sedução e vingança vão se concretizando na penumbra, enquanto nas salas e salões toda a luz é mantida.
Nessa mesma cadência do sussurro segue o erotismo explorado a cada capítulo, sempre em doses homeopáticas, pois os manipuladores não tem pressa em retardar seu gozo de prazer, triunfo e vingança. Basta que descubram as fraquezas das presas (todos temos), pois como no conto de Machado de Assis, A igreja do diabo, em cada manto de seda há uma franja de algodão, puxemos a ponta e a virtude pode virar vício.
Nossa Marquesa é a própria encarnação da Viúva negra, megera indomada, dissimulada e charmosa. Nosso Visconde, o próprio Don Juan, o prazer reside na conquista, uma vez sua, já não lhe serve, é hora de partir para outros lençóis. Todavia, os planos começam a ruir e prevemos que serão mudados de fato, pois vejam só, tem um amor no meio do caminho. E este Senhor costuma ter mania de alterar os rumos, não importa quais sejam as regras do jogo. O nosso Visconde dos trópicos começa a se render à doce Mariana (como a Sóror Portuguesa), troféu tão difícil de conquistar, tão frágil e tão forte, agora consumida pela culpa que tenta expurgar com o seu sangue(esperamos que não tenha o mesmo fim de Luísa ou da Dama das Camélias).
Como românticos que somos, torcemos pela sua redenção, pela remissão dos seus pecados. E enquanto isso seguimos curiosos pelos segredos sussurrados sob o lacre vermelho...Pois mais adiante, o tom é outro, o vermelho é outro, é uma guerra, Neguinho...
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
UMA REFLEXÃO PARA QUALQUER TEMPO

Trecho da letra da música Epitáfio, de Sérgio Brito, interpretada pela banda Titãs
Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração
Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier
segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
ENCONTRO DE MULHERES JORNALISTAS: CELEBRAÇÃO À VIDA!
O primeiro Encontro de Mulheres Jornalistas foi muito bom. Difícil seria imaginar que um segundo momento, com objetivos semelhantes, poderia ser melhor. Mas foi. A noite de quinta-feira (10) no Ibiza foi mágica. Encontros, reencontros, conversas sérias, muitas risadas... A chamada velha guarda do jornalismo feirense – da qual eu faço parte com muito orgulho – e a nova geração unidas pelo mesmo sentimento. O momento era para confraternizar, mas fomos muito além. Festejamos. Não somente a aproximação do Natal, o fim de um ano e o início de outro. Celebramos a vida! Aplausos para as idealizadoras e executoras dessa grande festa: Rose Leal, Beatriz Ferreira e Eveline Cordeiro. E que venha o terceiro encontro!
quarta-feira, 2 de dezembro de 2015
DIONORINA CANTA BOB MARLEY
Uma nova forma de interpretar a música de Bob Marley percorreu este ano o imaginário do cantor e compositor feirense Dionorina. O resultado poderá ser curtido nesta quinta-feira (3/12), às 20h, no Teatro da CDL, com o show “Dionorina in Concert Canta Bob Marley”.
“Procuramos lançar um olhar ao reggae mais para o erudito, utilizando um instrumental diversificado, misturando, por exemplo, guitarra com percussão e outros instrumentos”, explica o artista, adiantando que vai utilizar uma banda incluindo três violinos, uma viola e um violoncelo.
Prática que não é novidade na Europa, para onde viaja habitualmente, Dionorina admite: “Ainda não visualizei alguém com esse perfil aqui no Brasil”. Mas é com essa leitura que pretende investir para homenagear cantando, em inglês, os maiores sucessos dessa referência mundial do reggae, Bob Marley, que completa 34 anos de morto.
Dionorina terá o acompanhamento de Nicodemus Figueiredo (1º violino), Neemias Paganini (2º violino), Cleber Vitória (3º violino), Carlos (viola), Wander Claudino (violoncelo), Kiko Nascimento (guitarras acústica e elétrica), Ricardo Correia (percussão) e Vinícius Ferraz (piano, regência e arranjo de corda).
O projeto do show conta com o patrocínio da Prefeitura de Feira de Santana, por meio do Pró-Cultura/Esporte, Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca), Hospital Emec, Clínica Radiológica, Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), agência Mandacaru Comunicacão e Digê Assessoria e Produção Cultural.
A entrada é gratuita mediante a doação de um quilo de alimento não perecível a ser doado ao abrigo Casa de Passagem.
Com informações do Infocultural
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
O PRECONCEITO NOSSO DE CADA DIA
Atriz recebeu xingamentos nos comentários de uma foto postada em seu Facebook
Cris Viana foi mais uma artista vítima de racismo na internet. Assim como o recente episódio envolvendo a atriz Taís Araújo e anteriormente com a jornalista Maria Julia Coutinho, a Maju, a atriz da novela "A Regra do Jogo" foi alvo de comentários racistas ao postar uma foto em seu perfil do Facebook, na tarde desta segunda-feira (30).
"Já usou esse cabelo para lavar a casa hoje, Africana?", questionou um seguidor. "Parece o Bombril que minha mãe usa na pia", escreveu outro. "Sua primata africana", acrescentou mais um, dentre outras ofensas do tipo "Cade o Ibama pra tirar esse porco espinho do Facebook?". Além de ser ser chamada de "macaca".
A assessoria de Cris Viana, que recentemente estrelou uma campanha de biquíni em Florianópolis, afirmou que já está tomando as medidas legais cabíveis para resolover o assunto. 'Não posso me calar. Racismo é um crime inafiançável', frisa.
Pelo Instagram, a artista se manifestou sobre o caso e disse que não vai se calar. "Infelizmente, ainda passamos por isso em pleno 2015. Recentemente, a vítima foi a competente jornalista Maria Júlia Coutinho. E agora, apenas um mês após minha linda colega Taís Araújo também ter sido vergonhosa e covardemente atacada, aqui estamos novamente precisando enfrentar racistas escondidos sob o pretenso anonimato da internet", lamentou a atriz, citando os casos mais recentes de colegas que se contaram públicos.
Segundo a intérprete de Indira, na noite do último domingo (29), sua página do Facebook recebeu uma série de comentários preconceituosos. Entretanto, ela afirma que não pretende deixar o caso esquecido. "Foram imediatamente registrados e encaminhados à Justiça. Não posso me calar. Se meu trabalho me permite alguma expressividade, usarei minha voz por muitos que sofrem esse tipo de ataque racista diariamente e voltam para casa calados, cansados de não serem ouvidos, para chorar sozinhos".
'Covardes com mentes limitadas', rebate a atriz em mensagem
Ainda na declaração, Cris Vianna exaltou o orgulho que sente por ser negra e garante não se intimidar com os ataques. "Tenho orgulho da minha pele, do meu cabelo, da minha origem e de tudo o que sou. Do que somos. E não estamos sozinhos. Temos do nosso lado a lei – racismo é crime inafiançável - e milhares de brasileiros que também acreditam num país mais justo e civilizado, gente que entende que respeitar as diferenças é mais que um dever e que está disposta a denunciar e lutar contra todo tipo de preconceito".
A atriz voltou a lamentar o caso e se mostrou indignada. "A vergonha e a tristeza que sinto hoje são por essas pessoas pequenas, pobres de espírito e de coração vazio, que, em 2015, ainda insistem em reproduzir pensamentos há muito ultrapassados e desde sempre absurdos. São covardes com mentes limitadas, incapazes de enxergar e aceitar que somos todos, com as nossas diferenças e peculiaridades, dignos do mesmo respeito. A essa minoria cega e burra, minha pena", finalizou.
Escolas pouco preparadas para lidar com o racismo
No início de novembro, Taís Araújo passou pela mesma situação. Na época, a mulher de Lázaro Ramos prestou queixa e a polícia pediu a quebra do sigilo de 70 perfis de usuários para identificar os culpado. Semanas depois, a artista esteve no programa "Altas Horas", de Serginho Groisman, e falou sobre o episódio de racismo que sofreu na infância.
"Um dia um menino perguntou quem pagava a minha escola, se era a patroa da minha mãe. Eu cheguei em casa muito revoltada. Peguei as joias da minha mãe, voltei, taquei na cara do garoto e falei: 'Olha quem paga!'", lembrou. "Minha mãe foi chamada na escola porque eu tinha tido uma atitude agressiva e a mãe do coleguinha sequer ficou sabendo."
MSN Notícias
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
PRA DIZER QUE FALEI DAS FLORES E DO LIVRO
Depois de tanto caminhar sentindo o mormaço do dia, entrou numa loja de artigos religiosos. Era ali que ele encontraria o livro indicado por seu amigo na noite anterior, quando conversavam sobre o término do namoro de uma de suas amigas, ao passo que se queixam do calor. Realmente, estava muito quente. Assim que entrou, viu que vendiam imagens de Alguém invisível. Olhou para todos os cantos e notou que as pessoas ainda precisavam de artifícios para encontrar Alguém que se deixa ser encontrado.
Pegou o livro e o pagou. Enquanto contava o troco e o guardava em sua carteira, notara que a moça do caixa havia colocado o livro numa sacola plástica reciclada. Ele não ficou incomodado com o fato de ela ser de material reciclado, mas era um livro numa sacola plástica de supermercado sem propaganda, sem cor e nem brilho. Para ele o objeto estaria sendo banalizado, afinal de contas era um livro e estava numa sacolinha de supermercado. Logo depois, ele se conformou, pois lembrou que a crise havia abrangido a todos.
O calor continuava, a chuva que prometia vir não se predispunha e ele continuava sua caminhada. O medicamento já havia sido comprado e, naquele momento, pensava apenas como seria sua posologia, talvez em dose única. Ele sempre lembrava que era uma época de crise e que só poderia comprar comida e medicamentos, caso necessitasse. Durante o trajeto até o comércio de flores, ele via os transeuntes, mas eles não o viam. Ele os via.
O sinal parava, eles atravessavam. O destino os esperava, assim como o dele. De repente, ele vê um homem que tinha aparência de ter trinta e cinco anos segurando a mão de um garoto de aproximadamente sete anos. Conjeturou ser pai e filho, pois estavam sintonizados: riam, falavam próximo ao ouvido e estavam de mãos como cadeados.
De súbito, ele se viu naquele contexto e, numa conta rápida feita na mente, viu que aquele homem teria se tornado pai aos vinte e oito anos. Ele já tinha trinta e ainda morava só. Sua visão os acompanhou até o horizonte... Sumiram como um navio desaparece no mar.
O mundo havia parado. Talvez ali, naquela hora, ele se tornara autista. Entretanto, para o seu dessabor, algum filho do capitalismo que passava ao seu lado derrubou a sacola dele e, mais uma vez, viu que o seu livro estava numa sacola plástica sem propaganda e sem brilho e que havia comprado o livro numa loja onde vendia imagens de Alguém invisível.
Se fosse para o meu filho – pensou – teria que estar num embrulho para presente. Jamais daria algo especial numa sacolinha plástica de supermercado. Recolheu-o do chão e desceu a ladeira que daria acesso à rua das flores.
Ele andou por uma, duas, três lojas e as pessoas, entre funcionários e proprietários, não se dispuseram de atenção. Acho que é porque estou com um livro dentro de uma sacolinha de plástico sem propaganda – pensou. No entanto, na quarta loja, uma senhora simpática veio atendê-lo. Ele observava tudo e, por uma questão de segundos, entrara num mundo seu. Não ouvia mais nada, apenas dava vazão à imaginação.
Aquelas cores, aquele perfume, a sensação de estar sendo molhado por gotículas de chuva o transportaram para um lugar bucólico onde os poetas árcades declamavam as suas poesias e bebericavam seus vinhos. Mas um simples toque da bondosa senhora fez todos aqueles pensamentos sumirem como um relâmpago.
- O senhor deseja algum presente?
- Não necessariamente.
Que espécie ele levaria? – refletia constantemente. Lírios? Talvez sim, porque eles exalam um perfume singular e deixariam a sua casa toda perfumada. Todavia, ao perguntar o preço de cada galho, viu que a recessão não permitiria vê-los desabrocharem sobre a mesa de sua sala.
Ao desviar o olhar rapidamente para o seu lado esquerdo, ele viu algo exótico e com o preço que podia pagar. Era uma muda de celosia. Ele concordou que o nome era estranho, parecia um tipo de doença, mas não importava uma vez que o mundo estava estranho e ele já havia se acostumado.
A nomeação da flor não importava naquele momento. Ela possuía um caule delgado e avermelhado, suas folhas oscilavam entre verdes e avermelhadas e as flores... Ah as flores... possuíam muitos filamentos que configuravam uma espécie de pinheirinhos de natal já enfeitados, pois eram vermelhos e estavam num vaso de plástico preto. Contudo uma coisa o deixou triste e o fez, por um instante, desistir de levá-las para casa: elas não exalavam perfume como os lírios.
Não importava. Ela era exótica e ficaria muito bem sobre a sua mesa de mármore luzidio. Saíram da venda ele, o livro dentro da sacola de supermercado e as flores.
Emerson Souza
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