Por Madalena de Jesus
Cida, seu filho Victor Souza e Madalena de Jesus, que está apresentando o programa Um Toque de Mulher
Emoção, alegria, esperança e paz. Foram estes os sentimentos que vivenciei durante os dias que passei em Barretos, no Estado de São Paulo, cidade que até então eu só ouvira falar pela magnitude da Festa do Peão e pela referência de um hospital especializado no tratamento do câncer. Agora, eu descobri de verdade o que esse lugar representa.
Fui visitar minha amiga e comadre Aparecida Machado, que está lá há exatos 31 dias. A saudade era imensa, talvez do mesmo tamanho da ansiedade para ver de perto tudo que está acontecendo em seu tratamento. A propósito, já se passaram duas sessões de quimioterapia e ela lá, forte como uma rocha e com uma fé inabalável.
Em volta dela, pessoas que vivem problemas similares e estão em busca da cura. Todas vivendo numa simplicidade comovente, porque entendem que são iguais – muda apenas a parte do corpo atingida pelo câncer. A convivência no alojamento, nas pousadas e no hospital é perpassada por um sentimento cada vez mais raro entre nós: a solidariedade.
No cotidiano no alojamento Madre Paulina, nas horas das refeições, assistindo televisão com os hóspedes e acompanhantes ou remexendo as peças do bazar permanente na entrada principal, conheci muitas pessoas e ouvi inúmeras histórias: de renúncia, de perdão, de auto conhecimento e, sobretudo, de amor.
O marido que aprendeu a fazer tricô para tornar mais agradáveis as horas no alojamento; o filho que trata do visual da mãe para deixá-la sempre bonita; a esposa que vive inventando receitas para o marido não perder o apetite; a filha que viaja três mil quilômetros duas vezes por mês para não perder o contato com o pai.
Os exemplos são muitos. E eu não posso deixar de citar o “meu” exemplo: Victor. Um garoto de 21 anos que se tornou símbolo de amor e dedicação à mãe e, da mesma forma que Júnior, deixou tudo para trás e foi viver lá. O cuidado com Cida está acima de qualquer outra coisa, desde a medicação e o alimento nas horas programadas, ao passeio na área externa.
Confesso que tive que segurar as lágrimas em muitos momentos. Em um deles, não consegui. Foi quando oramos juntas na capela do alojamento, diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida. Mas imediatamente me vieram à mente as sábias palavras de Madre Paulina: “Nunca, jamais desanimeis, embora venham ventos contrários”.
Do outro lado do alojamento, o grandioso – em todos os sentidos – Hospital do Câncer de Barretos, mantido pela Fundação Pio XII. Por lá passam por dia cerca de 3.500 pessoas em busca de tratamento. E encontram. O questionamento, com uma ponta de inveja, vem na hora: Por que na minha cidade, no meu estado não é assim?
A unidade hospitalar conta com apenas 30% de todo o seu custo de manutenção patrocinado com verbas públicas. Todo o restante vem por meio de doações, principalmente de artistas, como Ivete Sangalo, Sérgio Reis, Zezé de Camargo e Luciano, Xuxa e muitos outros, bem como de muitas pessoas anônimas.
Depois dessa estada em Barretos, um lugar que lembra o infinito descrito por Egberto Costa em um de seus poemas – ... “onde as pessoas são iguais e simplesmente se amam...” – retornei com uma certeza. Se a cura de Cida se der pelos avanços da medicina, ela está no lugar certo. Se for por um milagre divino, ela está pronta para receber. Mas a cura virá.
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