quinta-feira, 11 de agosto de 2011

E SE NÃO FOSSE COLBERT?


Por Roberta Costa, jornalista

Diante da prisão do ex-deputado federal Colbert Martins da Silva Filho e da defesa total de quase toda a comunidade feirense (leia-se, jornalistas, empresários e políticos), alguns fatos me chamaram a atenção, como o questionamento da ação da Polícia Federal (PF).

Até o momento, no ano de 2011, a PF fez 141 operações em todo o Brasil, totalizando 923 prisões, sendo 137 de funcionários públicos e 4 de policiais federais. Na Bahia, foram 7 operações. As operações Radar e Susto, em Ilhéus, com quatro presos. A operação Monte Pascoal em Salvador, Serrote e Caroá II, em Juazeiro, com quatro presos, além das operações Cerco Fechado, com 21 presos e Bancarrota, com 15 presos. A operação Bancarrota expediu mandatos de prisão preventiva em Feira de Santana e São Gonçalo dos Campos. Em todas as operações, ela utiliza o mesmo padrão de abordagem.

Sobre as algemas: é fato que a utilização das algemas, em alguns casos, é necessária, mas não pode ser feita de forma indiscriminada e sem critério. O Plenário do Superior Tribunal Federal (STF) aprovou em 2008, a 11ª Súmula Vinculante, consolidando jurisprudência da Corte, prevendo a aplicação de penalidades se houver abuso físico e moral do preso. Leia a íntegra do texto:

Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

O que acontece é que esse caso só causa discussões quando nomes importantes do cenário político nacional são presos. É preciso que se tenha uma regulamentação específica, para extinguir as interpretações tendenciosas sobre o tema. Enquanto isso não acontece, ora as algemas são vistas como fundamentais e, em outros momentos, ela é vista como símbolo de repressão, dependendo de quem foi preso.

Voltando a falar de Colbert, sua prisão contradiz todo o seu histórico político. Filho de Colbert Martins, tradicional político de Feira de Santana, ele foi deputado estadual em 1990, três vezes deputado federal e assumiu o cargo de secretário Nacional de Turismo em maio de 2011. É médico e professor licenciado da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Colbert nunca esteve envolvido em polêmicas políticas, trabalhando, especialmente, para o município de Feira de Santana, como no Projeto que cria a Região Metropolitana.

Tomando nota desses fatos, vamos falar de jornalismo. Um fato deve ser repensado. Perdoem-me os que conhecem e acreditam em Colbert. Mas a condução do fato por alguns veículos de comunicação de Feira fere um principio básico do jornalismo: a imparcialidade.

Acreditar na inocência de Colbert é natural, diante da sua história política e das lutas em prol de Feira. Mas não posso me isentar do direito de dizer que alguns jornalistas perderam a “mão” nos comentários sobre o caso.

Questões e crenças pessoais feriram o princípio de ética do jornalismo. Além de “cegar” alguns para a realidade dos fatos. Assim como Colbert, outras 36 pessoas foram presas, esperando o esclarecimento das denúncias para retornarem às suas vidas. Muitos pais, mães e cidades inteiras podem estar chorando e defendendo a inocência dos seus conterrâneos, tal qual Feira de Santana.

Quantos pais e mães choram vendo as fotos de seus filhos inocentes (ou não), estampados nas capas dos nossos sites e jornais. Fotos que revelam suas fraquezas, sua dor. Fotos de pessoas sangrando, mortas, presas. Por que dói menos quando não conhecemos o personagem da notícia? Pois é. Colbert é personagem de uma notícia triste sobre a corrupção no nosso país. Há poucos dias, o foco não era o Ministério do Turismo, mas o Ministério dos Transportes e o Ministério da Agricultura. Quantos “Colbert’s” (me perdoem a escrita) podem estar no meio desses escândalos? Quantos, aparentemente, entraram de “gaiatos” no navio da corrupção e até hoje não tiveram a chance de provar a sua inocência?

Será que se fosse outro político da nossa cidade, na mesma situação, os comentários seriam esses? Ou, por ter um temperamento mais intempestivo, algum escândalo na sua carreira, seria acusado e apontado como ladrão? O fato é: Colbert foi detido para prestar esclarecimentos. Com a situação resolvida, ele irá explicar à sociedade o que aconteceu e é certo que, se ele for inocente, esse fato não manchará sua carreira. Mas não se pode criticar quem, independente de preferências pessoais, preza pelo bom jornalismo, apura os fatos e os divulga de maneira imparcial, contribuindo para a criação do senso crítico da sociedade. Pois nós somos comunicadores e temos, acima do compromisso com Colbert, o compromisso com a sociedade, que acredita e dá credibilidade ao nosso trabalho.


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