Nossa língua tem coisas engraçadas. Exemplo? Aqui, no Brasil, não damos o sim como resposta. Damos o verbo. Você lembra o que aconteceu? Lembro. Quer lembrar mais? Quero. Sabe o que isso significa? Sei. E por aí vai sem nunca pronunciarmos um único sim. Com a negativa é diferente. Dizemos não e pronto. Você lembra o que aconteceu? Não. O não é imediato, preciso, definitivo. O sim se omite. O não se impõe. Cismo. Se até no gesto o sim vem antes do não. O recém-nascido, primeiro, diz sim ao peito. Só depois, farto, diz não. Vou mais fundo e me dou conta de que o sim é movimento para cima e para baixo. O não é movimento para os lados. Por isso, para bem ninarmos um bebê, é preciso balançá-lo de leve com sins e nãos alternados. Ao se familiarizar com os dois polos, ele dormirá tranquilo. Aprendi essa lição nas madrugadas que passei com o Nuno e a Rosário. Vou adiante, descubro possibilidades. A paixão diz sim. A castidade diz não. A tentação diz sim. A virtude diz não. A saúde diz sim. A doença diz não. O esbofeteado diz não, o guardanapo na boca diz não, o pêndulo diz não. A freada do carro diz sim, os limpadores de pára-brisas dizem não. As retas da estrada dizem sim. As curvas dizem não. A plateia de um jogo de tênis diz não. No futebol, o artilheiro tem de dizer sim e o goleiro tem de dizer não. Pois sim quer dizer não. Pois não quer dizer sim.
Francisco Azevedo, em “O Arroz de Palma”
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