quarta-feira, 11 de julho de 2018

IRREVERÊNCIA E TALENTO QUE DEIXARAM SAUDADE



Esta semana eu estava tomando café com dois amigos, quando um deles me perguntou, assim, do nada, se a jornalista Joana Morbeck tinha algum parentesco com o cantor Jota Morbeck, que eu conheci – e muito bem – no auge do seu sucesso como cantor. Era sua fã, no mais completo significado do termo. Como não sou de guardar as coisas, fiz a pergunta à própria Joana e a resposta me deixou muito feliz. Ela é filha de uma irmã de Jota, aquele menino irreverente e absurdamente talentoso que embalou muitas festas de rua, desde o início da década de 80. Foi aí que eu lembrei de um texto assinado pelo não menos talentoso Edilson Veloso, professor, radialista e pesquisador musical, publicado pelo site Feirenses em 12 de maio de 2017, na série Crônicas da Micareta de Feira. E o título da crônica, por si só, já dizia tudo: “O maior cantor de trio que já vi”. E aqui eu compartilho com os leitores do Tabuleiro da Maria, cheia de saudade. (Madalena de Jesus)


Se eu citar Juscelino de Oliveira Morbeck, talvez muitas pessoas estranhem. Mas se eu disser Jota Morbeck, vários lembrarão. Ele, sem dúvida, foi o melhor cantor de trio elétrico que eu vi e ouvi.
Jota era único na forma de versar uma boa música. Nascido em Ruy Barbosa, em fevereiro de 1962, veio para Feira de Santana em 1974. Era completo. Cantava de Caetano a Dire Straits. Sabia, como poucos, mudar um cenário na festa. Trilhou pela banda Mic Five e Lordão, e lembro-me de Jota Morbeck & Banda Gaiola Mágica.

No início da década de 80 ele surge como primeiro vocalista da Banda Eva. Foi destaque de vários carnavais, ganhando prêmios como melhor cantor. Também passou pela Banda Novos Bárbaros, onde emplacou os inesquecível hits “Melô do Halley”,”Ilê Birimba”, “Deboche” e “Descendo a Ladeira”, além do Trio Elétrico Tapajós, quando mandou bem com “Falabá”.

Morbeck fez inúmeras andanças por toda a Bahia, cantando quando ainda havia o Circuito de Micaretas em nosso Estado. Tinha uma característica inconfundível; a forma de se vestir. Ele primava pela elegância no quesito indumentária. Adorava camisas de seda, calça social e belos pisantes. Era comum chegar num hotel e vê-lo sentado à mesa com um litro de uísque, admirando a paisagem e esperando a folia.

“Jota foi para a música o mesmo que Pelé para o futebol; ele era único 
e jamais vai aparecer alguém melhor”

Seu talento era exaltado por onde passava, pois sempre deixava a sua marca, que era cantar divinamente. Em uma conversa com o artista Mairi Monte Alegre, veterano da música e amigo particular, ele pontuou sem pestanejar: “Jota foi para a música o mesmo que Pelé para o futebol; ele era único e jamais vai aparecer alguém melhor”.

Jota foi vítima da falta de reconhecimento por parte das pessoas que diziam fazer a Cultura local. Injustiçado, na época do Prefeito Clailton Mascarenhas, foi cobrar o cachê de uma apresentação e chamaram a polícia para ele. Mas como o talento morre com o dono, Jota seguiu fazendo o que mais sabia e amava: cantar e alegrar as pessoas. O gênio Morbeck foi para o céu em 27 de abril de 2000, e no ano seguinte, num ato de hipocrisia, a Prefeitura deu seu nome ao palco alternativo da Micareta.
Homenagem se faz em vida. Mas, certamente, ele foi recebido pelos Deuses da folia. Jota Morbeck é eterno! Repito: o melhor cantor de trio elétrico que eu vi e ouvi!

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