quinta-feira, 2 de agosto de 2018

MINHA MÃE TEM UMA BARRACA NA SALES BARBOSA




Minha mãe tem uma barraca na Sales Barbosa. Na verdade é um box, mas eu chamo de barraca. De quinze anos que moro aqui, 11 são dela com um comércio no centro. A gente é das antigas, ali. Da época que tínhamos que chegar 6:30 pra tirar os fardos do depósito de Dona Creuza, num bequinho da Conselheiro Franco, depois da Le Biscuit. Era uma hora só de arrumação.

Mesmo algumas pessoas já sabendo desse fato, eu sempre gosto de lembrar. São onze anos de Sales Barbosa. Onze no centro da cidade. Tenho 23 anos, então passei minha adolescência lá. Minha percepção de Feira de Santana vem do comércio. A comunicação, a forma de lidar com as laranjadas. Mapeei o centro a partir dali. Todos os caminhos levam à Sales Barbosa.

E, dentro desse tempo, percebi uma coisa: o comércio de Feira segue tendências. A primeira que vi foi o “boom” das óticas. Era ótica pra tudo quanto é lado. Uma cidade de cegos, quase. Mas parece que essa moda não deu tão certo. Se o tivesse, não teria tanta gente fazendo barbeiragem nas ruas daqui. Na trincheira da João Durval com a Presidente Dutra é até entendível, porque aquilo é confuso mesmo. Mas entrar duas vezes seguida na contramão da Fernando São Paulo? Isso é coisa de quem não usa óculos.

Depois foram as lojas de 10 reais. As POCs do comércio feirense. Era loja de 10 reais pra tudo quanto é lado. O Feiraguay já vendia roupa barata, mas por uma arara? 10 golpinhos? Isso só na Sales. Nem a Marechal entrou na onda tanto quanto a rua que é o coração dessa cidade.

As galerias até voltaram a ser moda, durante um tempo. O que eu, particularmente, curti. Nunca compro nada nelas, mas são ótimos atalhos. Na Senhor dos Passos tem uma mesmo com saída na Carlos Gomes. Sequer sei o nome. É perfeita pra quem quer ir até o Feira Tênis Clube. Sai quase de frente à Griffe do Atleta. Tem uma lotérica ali colada, também. Muito bem posicionada. Galeria top.

A moda, agora, são as farmácias. Já reparou na quantidade de farmácias? É uma pra cada pessoa residente do Tomba. Só ali, depois do A Mukeka, são 3: uma Silva, uma Pague Menos e uma FTB. Coladas. Cada esquina tem uma. Deve ter muita gente doente aqui, não é possível.

O Habbib’s fechou. Virou uma farmácia. Mais uma Drogasil. O povo dessa cidade deve ser burro de trocar aquela esfirra apimentada deliciosa por Dorflex. As pizzas eram ruins, mas aí é defeito da rede Habbib’s. Uma vez entrei lá com 10 reais. Pedi uma Coca de 600 ml e o resto de esfirra de carne. Pensei que eram 50 centavos por cada uma. No dia era promoção, 20 centavinhos cada uma. Fiquei ali no antigo espaço Marcus Moraes, de frente para a Lucidata, comendo esfirra e bebendo Coca. Parecia um pinto no lixo.

Perto da Pão Center, do outro lado da Frei Aureliano, havia uma Mr. Polo, ao lado de uma loja de produtos naturais. O cúmulo da gourmetização. Eu nem gostava de passar ali em frente, mesmo quando trabalhava na Nutrimar. Só o ar já queria me fazer comprar uma moto de 30 mil e uma calça de 800 reais. Aí as duas fecharam. Pensei que seria um boteco. Mas não, virou uma Extrafarma. Pelo menos a Mr. Polo sairia dali. Mas não, foi para o lado. Quem saiu dali foi a Fufs. Só derrota.

Mas nenhum lugar me deixou tão indignado quanto o Cine Íris. O Cine Íris! Fecharam aquele marco feirense para abrir uma Pague Menos. Me sinto um merda por ter nascido tarde demais para frequentar o cine antes de virar um cinema pornô. E o Cine Íris pornô meio que já funcionava como uma farmácia. A quantidade de Dipiroca e Parabucetamol que já passaram por ali não se escreve nem em uma folha de papel do tamanho da José Falcão. A recomendação máxima pra quem fosse ver um Brasileirinhas ou Panteras no melhor lugar que essa cidade já teve era não sentar nas cadeiras. Nem no chão. A probabilidade de um caco de xota voar na sua cara era de 300%. Nunca cheguei a entrar, o segurança era caro demais pra um pivete subornar. Isso não quer dizer que nunca tentei.

Com a porrada de clínicas na Maria Quitéria e de farmácias em Feira, a análise que faço é de que, sim, Feira está doente. E não tem nada que cure melhor a doença de uma cidade do que bregas. Puteiros mesmo. A demanda é sempre grande, só falta a oferta. Puteiro cura tudo. Substitui cada farmácia por um brega. Depois é só a CDL criar uma planilha de organização baseada na Câmara de Vereadores daqui. Pronto, aí é só sucesso. A putaria vai comer solta.

Alan de Sá é estudante de Jornalismo na FAT


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