terça-feira, 9 de abril de 2019

DONA AMÉLIA E SEUS QUATRO FILHOS: UMA HISTÓRIA DE AMOR PELO MAP

                                               Tradição, trabalho e amor no mesmo lugar

Às 8h o cheiro do cuscuz, do aipim manteiga e da carne do sol acebolada é um atrativo em “Nando Sorveteria e Lanches”, no Mercado de Arte Popular (MAP). É ele, Fernando Ribeiro, que vai ao fogão preparar os pratos do café oferecidos no cardápio. A clientela é cativa em todas as manhãs –  numa rotina mantida de segunda-feira a sábado – mas há também opções para lanches e almoço. A maioria dos clientes é de vendedores ambulantes do Calçadão da Sales Barbosa, assim como há aqueles que trabalham no comércio ou que estão de passagem. Há 18 anos, Fernando mantém o espaço, mas sua relação com o MAP começou ainda na infância.

“Lembro que saía da escola e vinha direto para cá. Minha mãe nos acomodava no box e aqui mesmo nós fazíamos as lições”, recorda Fernando (foto), hoje aos 37 anos, referindo-se a dona Amélia Ribeiro dos Santos, uma das primeiras permissionárias. Dos cinco filhos da comerciante e artesã de 68 anos, quatro deles mantêm boxes no MAP – outro mora nos Estados Unidos.

“Sempre passei mais tempo aqui do que na minha casa”, diz Fernando orgulhoso ao afirmar que foi do trabalho no MAP que sua mãe criou os filhos, e assim como dona Amélia ele retira o seu sustento familiar. “Esse lugar é o amor da gente”, acrescenta.

Vida construída no MAP
Bem próximo à lanchonete de Fernando, sua irmã Suzane Ribeiro Santos (foto), 48, se dedica ao comércio de vestidos, calças para capoeiristas e jalecos para profissionais de saúde. Está neste ramo há 31 anos e lembra que a história profissional da família começou no Centro de Abastecimento, onde o pai, artesão já falecido, confeccionava bolsas em couro junto com dona Amélia.

“Nós crescemos vendo a dedicação dos nossos pais desde o ‘Artesanato Sete Flechas’, no Centro de Abastecimento. Eles se mudaram para o MAP, a gente sempre acompanhando o dia a dia deles, e daí foi brotando o gosto pelo ofício. Tornamos adultos e cada qual construiu uma vida estruturada dentro do MAP”.

Amélia: a costureira de “mão cheia”
Dona Amélia (foto) ainda está na ativa. Sentada atrás de um balcão de sandálias de couro, conta com orgulho e gratidão sobre uma história construída há 37 anos. Costureira de “mão cheia”, como são reconhecidas essas profissionais que se estacam no ramo, diz sem modéstia sobre as roupas de hippie e moda praia por ela confeccionadas. Recorda que da sua criatividade surgiram tecidos próprios, e “muito requisitados”, resultado da composição de estampas e cores.

“Aquela época mandava esses vestidos para Porto Seguro, Ilhéus e Itabuna, que estavam no auge entre os roteiros turísticos mais cobiçados no verão, e para comerciantes do Mercado Modelo, em Salvador, assim como mantinha a minha boa clientela no MAP”.
Ainda hoje, dona Amélia costura. A quantidade da produção já não é mais a mesma, mas “como a arte está no sangue” conta que tem se dedicado à pintura em telas e a confecção de bolsas em tecido. Suas produções estão expostas à venda no Box 62.
“Físico que gosta de cortar pano”

É assim que Hernane Ribeiro dos Santos (foto), 45, é carinhosamente intitulado por dona Amélia. Com formação em curso técnico em eletrotécnica e graduação em Física, pela Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), o filho da artesã e proprietário da Heyla Roupas optou pela arte aos números.

Das suas ideias já surgiram vestidos de noiva a peças mais simples, como trajes para ciganos, kaftans e peças africanas, que ainda hoje são produzidos por ele e vendidos no MAP.
“Assim como meus irmãos, cresci vendo dois exemplos dentro de casa: meus pais. Eles foram nossos maiores incentivadores para arte e são responsáveis por essa história de amor que hoje nós temos pelo Mercado de Arte Popular”, afirma Hernane explicando que conciliava os estudos com a costura, cujas peças eram colocadas à venda no box da mãe.

Texto: Renata Leite
Foto: Abnner Kaique

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