terça-feira, 11 de agosto de 2020

SOBRE JORNALISMO, LITERATURA E A DIFÍCIL ARTE DE ESCREVER

Tarde fria de agosto, no sofá da sala, tento escrever sobre o ofício da escrita. Metalinguagem? Que seja. O certo é que esse tema tem me perseguido ultimamente. Mas não sei bem por onde começar. Escrever não é tarefa muito fácil. Juntar as letras, formar palavras, as frases, parágrafos até chegar ao texto, demanda conhecimento. Da língua portuguesa, com certeza. Há de se ter, também, um certo pendor, vocação para a escrita, isso é indispensável.

A verdade é que sempre gostei de escrever, desde menina. Ainda no curso primário – hoje fundamental – as minhas redações eram lidas no final da aula, como exemplo de bom texto para os colegas. Aos poucos fui apurando também o gosto pela leitura. Lia sempre com a ajuda de um dicionário. Desse modo, ia anotando as palavras cujo significado era para mim era desconhecido e assim alargando o meu vocabulário. Trilhando esse caminho não foi difícil chegar ao jornalismo. E aqui estou, escrevendo.

O certo é que nós, os profissionais da escrita, escrevemos o tempo todo; enquanto lavamos a louça, passeamos de carro ou tentamos dormir. As palavras borbulham em nosso cérebro. Claro que é uma escrita sem texto físico. “Mas qualquer narrador profissional sabe que se escreve sobretudo dentro da cabeça.” Cunhei essa última frase da escritora espanhola Rosa Montero, em seu livro A Louca da Casa, onde descreve a inquietude que envolve a imaginação na composição de um texto.

É assim com o romancista, mas também com o jornalista. Quando estamos escrevendo ficamos alheios a tudo que se passa à nossa volta. Mergulhamos em um mundo particular onde as palavras dominam por completo o nosso pensamento. Criar um texto, à primeira vista, pode parecer fácil, mas também pode ser sofrido. E aqui eu lembro de Elisabeth Bishop, considerada uma das mais importantes poetas do século XX a publicar em língua inglesa, mas que levava semanas, até meses para compor um poema, burilando cada verso até encontrar a melhor palavra para expressar os sentimentos que lhe iam na alma.

E lá vou eu misturando jornalismo com literatura. Mas é que as duas atividades se relacionam, se complementam. O real e o ficcional se confundem nessa tarefa de expressar os acontecimentos ou os nossos pensamentos. Agora mesmo acabei de usar uma citação literária na elaboração desse texto. Falar de literatura e de jornalismo é falar da vida; da própria vida e da vida dos outros, vai nos lembrar, mais uma vez, Rosa Montero. É falar de alegria e de tristeza, de sonho e realidade. De modo que não há como dissociar uma coisa da outra.

Cá entre nós, um bom texto tem o seu lugar! Eu poderia desfilar aqui uma relação extensa de profissionais que dominam com maestria a arte de escrever. Sejam eles, jornalistas ou romancistas. Mas prefiro não citar nomes para não cometer o erro de esquecer um ou outro igualmente importante. Mas que é estimulante ler ou escrever um bom texto, isso é inegável; nos instiga, emociona, enriquece e nos dá prazer.

Me preocupa a juventude de hoje, acostumada a se comunicar por mensagens abreviadas e áudios, utilizando o celular.  Nesse aparelhinho, que já se tornou indispensável na vida de todos nós, ficou perdido o exercício da escrita de forma correta. Me assusta o que leio nas redes sociais! De vez em quando um leitor mais exigente corrige de maneira delicada. Outros, nem tanto. A língua portuguesa agradece.

E vou ficando por aqui, que essa prosa já está se alongando demais. Vou levando a vida como posso. Um dia leio, noutro escrevo; leio mais que escrevo. Aqui, no sofá da sala, nessa tarde fria de agosto, vou tentando concluir esse texto, na certeza de que terminar é tão difícil quanto começar.

Socorro Pitombo, jornalista

Texto publicado originalmente no Blog da Feira

terça-feira, 4 de agosto de 2020

QUANDO O DISCÍPULO VIRA MESTRE


Gilmar Souza Costa 


Jorge Portugal

Faz algumas horas que recebi a notícia da morte do professor Jorge Portugal. Poucos de vocês sabem, mas eu fui porteiro, por cinco anos, do prédio onde ele morou. Trabalhei ali dos quinze aos dezenove anos e nesse período pude ver sua vida agitada nas artes e na educação. Certa feita, ao chegar do trabalho e passando pela portaria, ele se dirigiu a mim e perguntou que tipo de literatura eu gostava, já que me via sempre com jornais ou revistas (uma orientação dos padrinhos). A conversa se estendeu e daquele dia em diante ele passou a me emprestar livros e gramáticas para eu estudar. Tempos depois, ele me perguntou que carreira eu pretendia seguir e eu fui categórico: Ainda não sei, mas quero ser reconhecido e respeitado como o senhor e sentar ao seu lado numa mesa de apresentações. Ele sorriu, agradeceu e seguiu seu caminho. 

O ano era 1995. Aquela conversa ficou segredada até 2011/2012, quando, na escola em que eu trabalhava, como professor de redação, dividi o mesmo palco com o aclamado professor e apresentador do programa Aprovados, Jorge Portugal. Ele, como convidado da casa para palestrar e eu como professor das turmas para quem ele falaria. Convidado por ele para assumir a fala e diante dos meus alunos, eu contei a minha história, lancei meus agradecimentos e externei minha alegria por aquele momento. Lacrimejando, ele disse: “Eu nunca ouvi história mais impressionante”.

Morreu um homem que olhou para um adolescente porteiro e deu o melhor que qualquer uma pessoa pode dar a outra: esperança e livros.

25 anos depois e aqui estou eu: Licenciado em Letras, Especialista em Educação e Mestre em Estudos de Linguagens, Professor de Redação. Sigo os passos do grande mestre, graças ao empenho, orientações e visão dos padrinhos Eduardo e Mara Lima, que jamais souberam dessa história senão no dia em que eu encontrei o professor Jorge no palco da escola. Eu imagino que tantos outros jovens foram marcados por esse grande homem e que tenham construído suas carreiras seguindo o exemplo que ele deu.

Sigo meu caminho desejando marcar vidas e ser exemplo para meus estudantes, assim como me inspirei nesse professor. Sigo almejando tocar corações, encorajar sonhos, dar esperança e mostrar que é possível encontrar água no deserto, beleza em dias cinzentos e joias num amontoado de lixo.

Professor também é herói.

Kia kaha.   
 
*Gilmar Souza Costa é Mestre em Estudos Linguísticos, Especialista em Gestão da Educação e graduado em Letras com Francês.


sábado, 25 de julho de 2020

O ESCRITOR

     
Cristiano Lôbo 

Centrado, sensível, sereno 
Inspirado pelo coração 
Capaz de traduzir o desejo
Em textos com ou sem emoção.

Busca no seu imaginário
Aquilo que gera beleza 
Conquanto precise, de fato, 
Da sintonia que traz a leveza.

Com técnicas e estilo próprios
Na escrita, sentidos atentos 
No papel ou mesmo na tela
Expõe, no contexto, seu talento. 

No lazer ou na profissão
Sem faltar o sentido do amor 
Ornando bem as palavras
Eis aí, o verdadeiro escritor.

Por Cristiano Lôbo

quinta-feira, 23 de julho de 2020

MARATONA DE IDEIAS UNIFTC BUSCA SOLUÇÕES PARA A PANDEMIA




 Primeira edição do evento, em 2019 - Foto Eduardo Freire


Encontrar soluções para enfrentar a Covid-19, especialmente nas áreas da saúde e da economia. Esse é o desafio proposto aos alunos da Rede UniFTC, através do projeto Maratona de Ideias, que realiza a primeira etapa neste sábado (25) e a segunda dia 25 de agosto. A atividade acontecerá totalmente on-line e será desenvolvida em grupos, com o suporte de professores. Serão premiadas as ideias que apostarem em tecnologia e inovação, sem perder de vista a relevância e a viabilidade das sugestões.

Estudantes de todas as unidades da instituição participam do projeto, que incentiva a interação e uso de habilidades, conhecimentos e competências em busca de soluções criativas. “Mesmo diante do distanciamento social, podemos ser criativos, fazendo uso da tecnologia e suas funcionalidades para unir nossos alunos e professores na busca por soluções inovadoras para a sociedade”, explica Fabrício Oliveira, Gestor do Programa de Inovação e Empreendedorismo da Rede UniFTC e responsável pela coordenação do projeto.

A intenção, de acordo com o professor, que também coordena o curso Sistemas de Informações do Centro Universitário UniFTC de Feira de Santana, é que todos os participantes tenham a experiência de compartilhar, aprender e construir de forma colaborativa. Fabrício informa ainda que toda a comunicação entre as equipes, seus mentores e a coordenação da Maratona de Ideias acontecerá através do Google Classroom. 

Em sua primeira edição, que aconteceu entre outubro e dezembro de 2019, a Maratona de Ideias abordou o tema "Eu movimento minha cidade" e provocou os estudantes a desenvolverem soluções inovadoras para os problemas de suas comunidades. As equipes que apresentaram ideias mais maduras seguiram para a disputa final, em Salvador. O projeto vencedor foi o aplicativo "Save Life", que facilita o processo burocrático em torno da doação de órgãos. Os alunos também trouxeram propostas relacionadas ao acesso à saúde pública, descarte consciente de resíduos e diversos outros temas relevantes à sociedade. 

Madalena de Jesus, jornalista


sexta-feira, 10 de julho de 2020

RELAXAR E VIVER O PRESENTE, É O QUE TEMOS.



E os dias vão passando, somando meses nesse isolamento forçado. Os casos da Covid-19 não param de crescer na nossa Feira de Santana.  Diante desse cenário, o prefeito voltou a adotar medidas restritivas, decretando, mais uma vez, o fechamento do comércio, uma maneira de ampliar a taxa de isolamento social, sempre abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Agora, mais do que nunca, a ordem é ficar em casa. 

Vivemos tempos estranhos, onde tudo acontece de modo virtual.  Recentemente, fiz uma consulta médica por chamada de vídeo, a telemedicina. Claro que não é a mesma coisa que uma consulta presencial, mas é o que temos no momento para as pessoas que, como eu, não devem sair de casa.  Para conversar com familiares e amigos uso o mesmo recurso. Assim, posso ver o rostinho das pessoas queridas, matar a saudade dos filhos e netos.

Dia desses, uma amiga lojista me ligou acenando com liquidações, coleções novas e outros atrativos que fazem a alegria de toda mulher; mandava até uma malinha com as peças para eu escolher em casa. Mas não preciso de roupas, o armário está cheio delas, há muito tempo sem uso. Não vou a lugar nenhum. Viajar então, nem pensar! Por enquanto só uso pijamas, de preferências os bem velhinhos, mais confortáveis.

Não vou mentir. Claro que sinto falta da rua, da lanchonete, do cinema, do shopping. Ah! As vitrines! Como era bom ver as novidades que os consumistas adoram. Parece até sonho que um dia percorri as alamedas dos shoppings, os corredores dos supermercados, as avenidas da cidade.

Quando tudo isso acabar, quero ir primeiro ao salão de beleza. Sério! Preciso urgente de uma repaginada na minha aparência! Quero sentar e deixar que as profissionais cuidem do meu cabelo, da pele, das sobrancelhas, das unhas. Uma faxina geral. Falando desse jeito até parece que não estou sequer tomando banho. Calma, não é bem assim, simplesmente trata-se da mais pura e completa vaidade, confesso.

Brincadeiras à parte, porque o assunto merece seriedade. Mas creio que é preciso relaxar nesse momento, deixar um pouco de lado os telejornais. Ficar somando o número de mortos e infectados só aumenta a ansiedade, preocupação, enfim, o medo de contrair a doença. Melhor é ouvir música, ler um bom livro, assistir filmes e séries interessantes, ligar para um amigo... tudo isso faz bem à saúde mental, recomendam as autoridades médicas. Para quem tem fé, rezar também traz um grande conforto, luz e esperança, quando tudo parece incerto.

Nas minhas reflexões sobre coronavírus, quarentena e outros senões, procuro ouvir o que nos diz a escritora chilena Isabel Allende. Ela aconselha a não viver com medo, porque nos faz imaginar o que ainda não aconteceu e sofrer o dobro. “Temos que relaxar um pouco, tentar apreciar o que temos e viver no presente”. Palavras alentadoras!

Socorro Pitombo é jornalista
Texto publicado originalmente no Blog da Feira

sábado, 27 de junho de 2020

SÁBADO NA FEIRA OU OS ESPECIALISTAS EM PANDEMIA



De repente nos tornamos especialistas em pandemia. É parecido com o que ocorre, por exemplo, em copa do mundo, onde há técnicos de futebol em cada esquina. Há os que analisam os números de infectados, mortos, hospitalizados, as taxas de transmissão, os níveis de isolamento, como verdadeiros estatísticos. Outros, se especializaram na extensa farmacopeia, receitando curas para o espírito e para o corpo, como verdadeiros infectologistas. Outros, experts em máscaras, em álcool gel, urbanismo, gestão privada e pública, em sexologia, em…. em diversas e inúmeras aptidões e funções humanas.

Dia desses alguém me receitou a raiz da jurema preta com casca de candeia e mel de abelha jataí, cozinhadas em fogo brando para ser tomada em noite de lua cheia…. Não vou mentir, eu gostei, ou melhor, adorei…e quase consigo fazer a porção, não fosse a raridade do mel dessa abelha catingueira. Me pareceu a receita do  ‘vinho sagrado’ do qual se serviam meus antepassados tapuios para atravessar a correnteza do rio monxoró, a nado, em tempo de inverno chuvoso como esse d’agora….

Isolado aqui na Matinha já lá se vão quase quatro meses, sem nenhuma capacidade de enveredar pelos caminhos das ciências e obrigado pela sobrevivência a escrever aqui no BF, me sobram memórias esparsas dos sábados em que eu flanava pelo centro da cidade, papeando no Mercado de Arte, bebericando na Marechal, rezando o ofício das almas e queimando o incenso de Senhora Santana na praça da Matriz.
Nessa época, ano passado, o milho verde espalhava-se pela rua. Há sempre uma roda de gente na praça do Map, onde  não é raro o samba-de-roda incomum dos angoleiros.

Olhe, se você já ouviu falar da segunda-feira em Feira de Santana, a feira livre, e sabe que não há mais o que diz Tom Zé naquela música, ou mesmo ouviu como eram as ruas do centro pela boca de algum comerciante abastado, entende o que eu quero dizer e mostrar. A diferença é que não há mais segunda-feira, entende?, pois o sábado na Feira tornou-se parecido com aquelas segundas, em burburinho, na variedade, na profusão de tabaréus, ou não, vindos de todos os recantos da região. É o dia que as vans chegam lotadas nos terminais da praça, do Feiraguay, atrás do Tênis, no Centro de Abastecimento. Transporte é o que não falta nesse entroncamento.

Mas escrever é um parto dolorido, as palavras me saem a fórceps, trôpegas, recorro então a essas  fotos para dar uma melhor ideia de como era o sábado no centro da Feira, antes dessa pandemia. Cumpro assim o meu dever e me livro desse texto que não sei como terminar…acho que minha saúde mental não está boa, com licença, vou me consultar com um especialista aqui no zap…

Jânio Rego, jornalista

(Publicado originalmente no Blog da Feira)

quinta-feira, 11 de junho de 2020

LER É VER O MUNDO COM A ALMA

Victor Souza Vieira

Quando ele era um garotinho de sete, oito anos e eu perguntava o que queria de presente de aniversário, a sua sugestão era sempre ir a uma livraria. Lá, ele escolhia, sem pressa e enchendo a atendente de questionamentos, um livro. E eu querendo agradar, claro, sempre comprava mais um ou dois. Afinal, não era nada comum uma criança substituir os brinquedos e tantos outros atrativos da vida infantil por livros.

O tempo passou. Já estudante de Direito e lá íamos nós para a livraria nos dias que antecediam sua data de aniversário – 12 de outubro, data duplamente emblemática, alusiva à criança e a Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. E enquanto eu folheava as mais interessantes obras literárias para indicar, ele chegava com um livro da área de conhecimento de seu curso. “Pronto, dinda, é esse”.

E meu pequeno Victor virou um grande homem, em todos os sentidos. E um leitor como poucos. Hoje, lendo uma resenha assinada por ele sobre o livro Frankenstein, de Mary Shelley, me surpreendi com a maturidade de sua interpretação, sua capacidade de entendimento não apenas do que está dito, mas principalmente das mensagens subjetivas. Afinal, é na subjetividade que está o sentido real.

Eu não sei até que ponto as nossas idas à livraria contribuíram para esse gosto tão especial pela leitura. Mas fico imensamente feliz, pois sei – aprendi com meu pai – que as palavras, onde quer que estejam, saltam aos olhos de todos, mas somente àqueles que têm o dom de ver além da superficialidade é dado o direito da verdadeira compreensão. Porque ler é ver o mundo com a alma.

Madalena de Jesus, jornalista, professora e madrinha de Victor Souza Vieira