quinta-feira, 30 de abril de 2015

ALEGRIA NO CÉU. TRISTEZA NA TERRA.

Anchieta Nery, 63 anos de amor à vida 

“O céu pode ate ficar um pouquinho mais alegre. Mas cá entre nós, eu vou ficar um tantão triste. Não sei por quanto tempo. Mas esta estação promete ser das mais longas. A longa travessia sequer iniciou, mas a saudade já me faz a cobrança com juros de cigano. A partir de agora, e não sei até quando, as minhas noites serão menos alegres. Ou mais tristes. Não mais vamos jogar baralho, conversar assuntos banais e sérios, mangar um do outro, brigar e fazer as pazes, sempre com muitos abraços. É, meu querido careca, a vida nos pregou uma peça. Nos separou antes do que gostaríamos. Parte da trajetória da existência foi cumprida: O mais novo vai sepultar o mais velho. Mas não gostei por ter sido agora. Mas o grande arquiteto do universo sabe o que faz e eu não sei o que digo. Vou sentir muito não podermos envelhecer juntos. Mas tenho a certeza de que o céu é o lugar para onde vão os bons de coração, estarás lá. Com amor”.

Agora é oficial. O jornalista Anchieta Nery, que estava internado desde o dia 22 por conta de um AVC, faleceu e seu corpo será velado na Capela do Hospital Dom Pedro de Alcântara nesta sexta-feira (1º). Como para ele não havia feriado nem dia santo, todos os familiares e amigos estarão lá, com certeza, para  a despedida. A tristeza será afastada de vez em quando, nas lembranças dos momentos marcados pela alegria que o caracterizava. Mas a saudade... Ah! será difícil conter e esse sentimento será para sempre, podem apostar.

Um profissional completo. Como professor, dava aulas de Literatura com um entusiasmo contagiante. Nem gaguejava, acreditem! O mesmo entusiasmo com que comentava o livro que acabara de ler. Quando nasceu o meu neto Lucas - esse é também o nome de seu neto, filho de Mayra - me emprestou "Médico de Homens e de Almas", que conta a história de Lucano, ou São Lucas. No nosso último encontro comentamos a história de "Aparecida" e ele pediu o livro emprestado. Não deu tempo... Também estava na minha lista de espera para o empréstimo de "O Arroz de Palma".

No jornalismo, a sua competência era mais que comprovada. Transitava com tranquilidade em todos os segmentos da comunicação, mas era na cultura e na arte que se encontrava. Aí, seus textos eram os mais belos. Nosso último trabalho juntos - eu, ele e Jorge Magal - foi na primeira edição do Natal Encantado, em 2013. Improvisamos uma redação em sua casa e por lá não somente preparamos um caderno especial para o Correio, como almoçamos, conversamos e, principalmente, rimos muito. De tudo e de todos. E até de nós mesmos.

A sua maior grandeza como profissional de comunicação era valorizar o trabalho do colega. E fazia isso com uma naturalidade desconcertante. Certa feita ele disse que o meu  texto tinha características semelhantes ao seu. Foi, sem dúvida, um dos maiores elogios que já recebi ao longo de  quase quatro décadas de carreira jornalística. Xixi era assim, dizia o que pensava e sentia. E às vezes nem era preciso, bastava um abraço que só ele sabia dar, sempre seguido de uns passos de dança. A qualquer hora, em qualquer lugar.

O sertanejo forte, mas de coração mole, deixa mulher, duas filhas, um neto e uma legião incontável de amigos e admiradores, por tudo o que foi e fez nesta cidade abençoada por Senhora Santana, desde que chegou de Rodelas, sua terra de origem. Se para os amigos ele era essa luz, imagine para os familiares! Não à toa, seu irmão e  também jornalista Batista Cruz postou uma emocionante mensagem de despedida em sua página no facebook, que publico como epígrafe.

Madalena de Jesus


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