domingo, 7 de julho de 2019

SOBRE JOÃO GILBERTO, MÚSICA E SILÊNCIO

José Carlos Teixeira



  

João Gilberto


Foi em 1987. A Feira do Interior reunia milhares de pessoas no Parque de Exposições, em Salvador. Naquele dia, a grande atração musical era ele: João Gilberto. Uma enorme ousadia. Afinal, todos sabiam das exigências de Joãozinho com o silêncio da plateia e a qualidade do som em seus shows. Mas ele topou.

Desde o início da noite a polêmica se estabeleceu: João vem. João não vem. Deu 23h, horário do show e nada de João. Deu meia-noite e nada. Por volta de 1h soube-se que ele havia chegado ao Hotel da Bahia. Às 2h circulava a notícia: Joãozinho estava a caminho. Chegou quase 4h. Entrou no palco uma meia hora depois, para alegria da plateia formada por fiéis e renitentes fãs, que, embalados por muitas cervejas bebidas na prolongada espera, o acompanharam logo na primeira música. João gostou e os incentivou. Pediu desculpa pelo atraso, falou de sua alegria em estar na Bahia, elogiou a afinação da plateia e emendou uma nova música.

Em meio ao público, circulavam vendedores de cerveja e amendoim e até um vendedor de sorvete que - suprema heresia - de vez em quando tocava o sino do carrinho sem se deixar intimidar por um ou outro olhar de desaprovação. Amanheceu, o sol mostrou a cara e João lá, desfiando seus clássicos. Tocou Desafinado, Chega de Saudade, A Felicidade, Eu Vim da Bahia, Garota de Ipanema e muito mais. Sempre acompanhado pelo público.

Joãozinho estava feliz. Eu, todos nós, na frente do palco, ainda mais felizes. Salve João. Obrigado por tudo.

José Carlos Teixeira, jornalista

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