segunda-feira, 22 de julho de 2019

UM LIVRO ESCRITO COM A ALMA




A relação de Madalena de Jesus com os livros sempre foi muito próxima.  Ela conta que desde menina lia tudo que chegava em suas mãos. Com o passar do tempo, essa ligação aliada à escrita foi se estreitando cada vez mais, com o incentivo dos professores e da família.

Com essa vocação ela só poderia ser jornalista, profissão em que foi longe, como já vaticinavam os mestres. É também professora graduada em Letras com Francês pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e pós-graduada em Docência em Ensino Superior pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), formação que lhe permite transitar com desenvoltura na educação, com experiência sobretudo nas áreas de Língua Portuguesa e Literatura.

No Brasil da atualidade a literatura está bem representada sobretudo pelas mulheres com histórias de vida fascinantes e trabalhos tanto em prosa quanto em verso.  Em Feira de Santana não é diferente. A jornalista Madalena de Jesus nos presenteia com seu livro “Tabuleiro da Maria”, uma coletânea de textos extraídos do blog do mesmo nome.

Escrito com a alma, como bem define a também jornalista Beatriz Ferreira, o livro traz uma diversidade de temas que vão desde o simples relato sobre pessoas de sua convivência; colegas, amigos, parentes, passando por situações que demonstram o seu amor pela cidade que a acolheu como filha e sobre sua própria história.

Como boas amigas que somos, amigas quase irmãs, é possível que alguns acreditem que esse texto não passa de um comentário elogioso. Mas creiam, justamente por essa razão, procurei me cercar de um certo distanciamento ao falar sobre “Tabuleiro da Maria”, uma publicação cheia de encantos, que vão sendo descobertos a partir da leitura fácil e comunicativa da autora.

Nem choro nem vela

Um dos textos mais interessantes é sem dúvida aquele em que ela discorre sobra a sensação de estar morta e assistindo ao próprio velório. Não, não é um relato macabro, nem tão pouco bizarro como se poderia imaginar á primeira vista. Muito pelo contrário, é até certo ponto hilário

O suposto velório é divertido, engraçado, bem ao estilo Madalena de Jesus, que tem na alegria a sua marca registrada. Mas quando morrer de verdade, ela quer mesmo os amigos em volta, com muita música, poesia e literatura.  Podem até distribuir livros, concorda. Mas no final o que prevalece mesmo é a máxima: melhor ficar velho, que morrer.

Lindamente escrito, o que me emociona mesmo é o que Madalena relata sobre o pai, Amílcar de Jesus, seo Zinho, como era mais conhecido. Impossibilitado de andar por conta de limitação física, viajou por outras culturas através dos livros. “Ler é ver o mundo com a alma”, dizia.

Madalena fala sobre o pai de maneira quase poética, lembrando seus braços fortes, uma espécie de compensação pela sua condição de paralítico. Ela recorda seo Zinho “pegando no pesado”, até porque as coisas nunca foram leves em sua vida.

E arremata de maneira magistral ao afirmar que as pernas sem movimento, quietas sobre a cadeira de rodas ou sobre o cavalo, seu condutor de toda a vida, são as marcas visíveis da perda infantil e da dor adulta. Os seus pés não vão a lugar algum, são as raízes do corpo. Confesso que choro toda vez que leio.

Agraciada com o Título de Cidadã Feirense, concedido pela Câmara Municipal, não conheço homenagem mais justa a essa profissional que sempre serviu à cidade e continua a fazê-lo. A honraria vem se juntar a tantas outras que já lhe foram conferidas, o que a envaidece, é claro, mas sem deslumbramento.

Madalena sempre diz que deve tudo a Feira de Santana. Foi aqui que iniciou a sua trajetória profissional orientada pelo jornalista Zadir Marques Porto, a quem se refere com carinho e gratidão. Com ele aprendeu toda a essência do jornalismo, principalmente os valores que devem nortear o exercício da profissão.

Na imprensa local passou pelo jornal Folha do Estado, revista Panorama, jornais Folha do Norte e Feira Hoje, este já extinto há alguns anos. Atualmente, divide seu tempo entre a Câmara Municipal, como servidora pública e a FTC. Também é radialista, e atua no site Bahia na política e na Associação Comercial.

Socorro Pitombo, jornalista)

(Texto escrito em 14.09.2018)

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