domingo, 22 de agosto de 2021

GALEGO DA COCADA E A PALMEIRA IMPERIAL DA PRAÇA DO LAMBE-LAMBE

 


Por Jânio Rêgo (*)

O Galego da Cocada, hoje instalado logo na entrada do Shopping Popular, me diz que foram  25 anos negociando na calçada próxima a essa palmeira imperial da praça do Lambe-Lambe no centro de Feira de Santana.

A palmeira talvez seja centenária como a praça inaugurada no início do século passado (1915) e hoje oficialmente chamada pelo nome do intendente na gestão do qual foi construída,  Bernardino Bahia.  Mas  pelo povo é  aclamada como  Praça do Lambe-lambe onde trabalhou, até ser removido para essa reforma em curso,  o meu amigo fotógrafo Zé Alves cuja saga é contada em documentário (O Retratista) produzido e dirigido pelos filhos dele.  

Nesta praça está o primeiro coreto erguido na cidade, segundo o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural  da Bahia que o tombou em 2002. Já naquela época o órgão reclamava do modelo de uso desse equipamento, o que nunca foi modificado. Ou seja, bar ou restaurante funcionando no ‘porão’ e o coreto em si ocupado como depósito. Não há informações sobre novo modelo ou se haverá um. Também não sei se os fotógrafos vão voltar.

Eram duas palmeiras imperiais. A outra foi condenada pelos botânicos e foi retirada numa operação com guinchos e caminhão, também lembra o Galego, enquanto mexe o panelão com ingredientes do doce. Eu digo que ele é sócio de Elias Tergillene e que foi o mineiro que mandou ele botar point da cocada e ele ri astutamente:

“Ele me deve é uma água mineral, passou aqui, bebeu e não pagou…! – Galego é um tipo brincalhão e comunicativo.

Há poucos dias, o Núcleo de Preservação da Memória Feirense ‘Rollie Poppino’ publicou uma foto de 1939 onde as duas palmeiras  aparecem, já adultas, mas ainda sem a companhia do edifício do INSS nem as duas falsas seringueiras que hoje a ocultam quando se fotografa do mesmo ângulo da foto antiga.

“Além do coreto, pouco se sabe sobre o mobiliário urbano, que parece ter sido bastante simples, limitando-se aos lampadários“, adverte o IPAC sobre os primórdios da praça na apresentação do bem tombado como patrimônio histórico da Bahia.

Há um busto do fundador desde 1956 na praça. Na última reforma, em 2000, a Prefeitura fixou a placa da reinauguração no pedestal  do busto com o nome do Prefeito  em letras garrafais maiores que a do nome da praça e do homenageado no bronze.

A reforma atual está privilegiando a pavimentação interna enquanto os arredores seguem o padrão do Calçadão da Sales Barbosa. Não parece haver acréscimo de verde, ou seja, plantio de novas árvores ou jardins. Mas é uma praça bem arborizada desde o início, isso também nos lembra o IPAC. Até a forçosa retirada  da outra palmeira provocou o plantio de mais três da mesma espécie.

Cronologicamente a praça da Matriz é a primeira. Mas na Bernardino Bahia é onde pulsa a Feira de Santana contemporânea. É a central, a que está no meio do quadrilátero comercial, aberta para a Sales Barbosa e a Senhor dos Passos onde se concentra o maior fluxo de consumidores.

Com um centro comercial cada vez mais desarborizado, com longas calçadas sem verde, a praça do Lambe-Lambe é um refrigério natural e imprescindível para o equilíbrio do clima e do ambiente.

E nem falei da feirinha de frutas e verduras…um privilégio urbano da Feira!


Jânio Rêgo é jornalista

Um comentário:

  1. Muito legal o texto 👏🏽👏🏽 adoro esse resgate das memórias de lugares e pessoas. Um garimpo de almas quase sempre comovente e agradável.

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